15/10/2024 às 17h29min - Atualizada em 16/10/2024 às 00h01min

Estudo inédito mostra oportunidade de tirar até 3 milhões de brasileiros da insegurança alimentar com redistribuição de alimentos

Estudo criado com coalizão de empresas estima que disseminação de boas práticas de doações e criação de novas redes de distribuição podem reduzir o impacto da fome no país

MARIA EDUARDA
Créditos: Divulgação

A insegurança alimentar atinge hoje cerca de 10% da população brasileira, situação que poderia ser mitigada por meio da ampliação da redistribuição de alimentos. Um estudo inédito realizado pelo Movimento Todos à Mesa, primeira coalizão de empresas voltadas ao combate do desperdício de alimentos, mostra que é possível reduzir o impacto da fome no país por meio de um conjunto de boas práticas. 

Tais ações, aliadas à melhoria de indicadores econômicos e à elaboração de políticas públicas favoráveis às doações, podem tirar da insegurança alimentar grave ou moderada de cerca de 3 milhões de brasileiros.

O relatório traz importantes insights como: 

  • Brasil tem mais de 20 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave e moderada;

  • Mesmo com a melhoria recente da fome no país, Brasil ainda é relevante no mapa global da fome, ocupando o 15° lugar no ranking global.

  • A redistribuição de alimentos, foco da discussão, é uma entre várias medidas necessárias na prevenção e combate à fome;

  • Porém, hoje, doações de alimentos representam <1% do total de alimentos desperdiçados no Brasil, abaixo dos níveis de países vizinhos;

  • Quando cruzamos o desperdício reaproveitável com as áreas de maior vulnerabilidade, vemos que há ainda muita oportunidade para aumento de doações. O estudo traz um importante olhar de que é factível crescer o volume redistribuído em 3 vezes, chegando  a 600 ktons ao ano - nos próximos 5 anos -, suficientes para impactar + de 3 Milhões de pessoas - 15% da população com Insegurança Alimentar Grave/Moderada;

  • Para absorver maior volume de doações, é necessário o aperfeiçoamento e crescimento da rede de redistribuição. O caminho até a meta requer crescimento gradual do volume de doações e esforços em todos os elos do ecossistema. Os ambientes tributário, regulatório e de engajamento já reúnem condições propícias às doações, embora avanços sejam necessários.

De acordo com a co-fundadora do Movimento Todos à Mesa, Alcione Pereira, a sociedade está cada vez mais engajada nesse sentido. “Enfrentar a insegurança alimentar é uma questão urgente, que exige atenção e ação imediata. No Brasil, mais de 8,7 milhões de pessoas sofrem com a falta de acesso regular a alimentos, resultando em fome, enquanto 20,6 milhões convivem com a insegurança alimentar grave ou moderada - que indica uma redução na qualidade e quantidade do que é consumido”, aponta a cofundadora do Movimento. “O reaproveitamento é uma das medidas necessárias na prevenção e combate à fome, que vai desde frutas e legumes fora dos padrões estéticos, até produtos próximos à data de validade ou itens com embalagens danificadas, mas ainda em boas condições de consumo”, avalia.

Com condução técnica da Connecting Food, co-fundadora do Movimento, a pesquisa tem o objetivo de orientar de maneira mais eficaz as estratégias e ações para mudar o curso dessa realidade, explorando as oportunidades operacionais, sistêmicas e regulatórias voltadas para o aumento de doações de alimentos. Estas informações podem ajudar a sociedade a promover novas políticas públicas, leis e programas que incentivem a redistribuição de alimentos e combatam a fome de maneira mais eficaz”, afirma a executiva.

Cenário atual no Brasil

No Brasil, já existe um ecossistema de redistribuição composto por doadores, operadores, bancos de alimentos, facilitadores e reguladores, que possibilita o reaproveitamento de alimentos para consumo. Atualmente, são doadas cerca de 200 mil toneladas de alimentos por ano no país, um número que pode ser triplicado com as iniciativas propostas pela coalizão. Entretanto, o nível de doação de alimentos no Brasil representa menos de 1% do desperdício – um número abaixo em comparação a outros países da América Latina, como Colômbia e México, e significativamente abaixo dos Estados Unidos.

“Para absorver maior volume de doações, é necessário o aperfeiçoamento e crescimento da rede de redistribuição com 3 grandes frentes: a melhoria da produtividade de operadores atuais, a criação de 150 novos bancos de alimentos e associações para a distribuição e a atuação pulverizada via distribuição direta”, diz Alcione.

A co-fundadora do Movimento Todos à Mesa, reforça: “os ambientes tributário e regulatório já reúnem condições propícias às doações, mas com alguns avanços é possível incrementar o volume potencial doável de alimentos, ampliando o acesso da população a uma alimentação adequada e nutritiva”, afirma.

No mesmo sentido, André Borges, Diretor de Sustentabilidade do iFood, empresa co-fundadora e co-financiadora do Todos à Mesa avalia que, embora os desafios sejam complexos, há espaço para mudar esse cenário. “Os desafios para acabarmos com a equação que existe entre as pessoas que passam fome e os alimentos e refeições que são desperdiçados diariamente são complexos. Somente por meio da atuação em conjunto de todo o ecossistema conseguiremos mudar esse cenário. Com o Todos à Mesa, já atuamos nesse sentido e há muito mais para ser feito. É por isso que estamos junto com tantos nomes de peso da indústria e do varejo em busca de aumentar o nosso poder de impacto e mobilização de empresas, sociedade e Governo”, explica.

Já para Fábio Lavezo, Gerente de Sustentabilidade e Investimento Social do Assaí, enfrentar a fome é um compromisso fundamental “O combate à fome é um tema prioritário na estratégia do Assaí. O apoio ao estudo do Movimento Todos à Mesa se soma às nossas iniciativas de combate à insegurança alimentar e nutricional que beneficiam mais de 300 instituições em todo o Brasil. O estudo que acabamos de lançar busca entender profundamente o cenário do desperdício de alimentos e, assim, contribui para encontrarmos soluções que reduzem os impactos da fome no pais”, ressalta.

O estudo contempla mais de 40 perspectivas e visões analisadas via entrevistas e coleta de opiniões em profundidade com diferentes stakeholders do tema de redistribuição, incluindo membros da coalizão TaM, bancos de alimentos, ONGs e experts. Além disso, foram analisadas diversas fontes de dados públicos, entre elas PNAD, IBGE, Vigisan, FAO, World Food Programme, Nações Unidas, Receita Federal, entre outros; e analisados mais de 20 leis e projetos em tramitação, além de Benchmarking com países e instituições de referência na redistribuição de alimentos e combate à fome,

 

 


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Maria Eduarda Lima de Brito Passos
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