04/10/2024 às 15h38min - Atualizada em 05/10/2024 às 12h04min

Queimadas na Amazônia sufocam metas do acordo de Paris 

Larissa Warnavin

VALQUIRIA MARCHIORI
Rodrigo Leal

As emissões de gases poluentes são uma das principais causas do aquecimento global. As atividades humanas, sobretudo as queimadas e o desmatamento, colaboram para o efeito estufa e por consequência, para as mudanças globais do clima. O efeito estufa é um fenômeno natural que, em equilíbrio, mantém as condições adequadas de temperatura para a vida na Terra. Entretanto, quando há o aumento da emissão de gases como dióxido de carbono (CO2), gás metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e outros compostos como hidrofluorcarbonos (HFCs) e perfluorcarbonos (PFCs) faz com que ocorra maior retenção de calor na atmosfera, elevando as temperaturas e intensificando as anomalias climáticas.  

Um relatório recente do Observatório do Clima sobre as queimadas na Amazônia destacou que cerca de 31,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente foram lançadas na atmosfera, entre os meses de junho e agosto deste ano. Esse valor representa um aumento de 60% em relação as emissões do ano anterior, para o mesmo período, sendo equivalente as emissões do ano todo na Noruega (32,5 milhões de toneladas). Esse é um dado preocupante, uma vez que essa informação não inclui as queimadas em outros biomas, como o Cerrado e o Pantanal, nem os focos de incêndio de setembro, que ultrapassaram os registrados nos meses anteriores.   

Além do impacto imediato das queimadas na emissão de gases de efeito estufa, também ocorrem as “emissões tardias”, ou seja, as emissões de CO2 equivalente que continuam a acontecer durante anos, após o término das queimadas. Soma-se a isso o fato de as florestas em estágio de regeneração serem mais suscetíveis a novos incêndios. A degradação contínua dessas áreas impede que elas recuperem sua função como estoques de carbono, pois levam anos para se regenerarem.   

Nesse cenário, podemos considerar que a ameaça das queimadas não se trata apenas da perda da biodiversidade e da péssima qualidade do ar, ela também está relacionada com o agravamento da crise climática. O país, que deveria ser um líder na preservação ambiental, acaba contribuindo de forma significativa para o aquecimento global, colocando em risco os esforços internacionais para conter o aumento das temperaturas.  

O Brasil, ao assinar o Acordo de Paris, comprometeu-se a reduzir significativamente suas emissões de gases de efeito estufa e adotar práticas de desenvolvimento sustentável. No entanto, o aumento das queimadas e a intensificação do desmatamento indicam um claro descumprimento desses compromissos. O país prometeu reduzir em 43% suas emissões até 2030, comparado aos níveis de 2005, mas as evidências mostram que estamos caminhando na direção oposta.   

Essa falta de ação não só prejudica a reputação internacional do Brasil, como também afeta diretamente a economia, já que o descumprimento dessas metas pode resultar em sanções econômicas e na perda de investimentos estrangeiros voltados para as práticas sustentáveis. Apesar das emissões provenientes das queimadas não entrarem nos cálculos dos relatórios de emissões de gases de efeito estufa, caso o Brasil queira atingir sua meta de redução de emissões e atender os acordos internacionais, a redução das emissões por queimadas e incêndios florestais deverão ser uma parte estratégica da política climática no país. 

(*) Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter. CEO da NAILA IoT Gerenciamento de Riscos e Monitoramento Ambiental. 


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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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