27/09/2024 às 13h51min - Atualizada em 30/09/2024 às 16h02min

O papel do Pix na revolução da bancarização brasileira e o que esperar para o futuro

Por Wagner Martin, VP de Relações Institucionais da Veritran no Brasil

CAMILE FREITAS
Divulgação / Veritran
O ano de 2020 foi um divisor de águas no Brasil. O timing foi o mesmo, mas aqui não estamos falando da pandemia de Covid-19, que parou o mundo: estamos falando do Pix, que revolucionou o sistema bancário no País e ajudou a democratizar o acesso a serviços financeiros. Essa modalidade foi criada para facilitar as transações digitais de dinheiro e teve adesão até de quem nunca tinha feito uma transferência online na vida (o que contabilizava 50% dos usuários do Pix).

A facilidade de acesso – a única exigência para fazer um Pix é ter uma conta em banco tradicional ou uma carteira digital – e a gratuidade do serviço – em contraste com o DOC e o TED – causaram uma adesão tremenda entre os consumidores brasileiros, acelerando o processo de bancarização de muitas pessoas que sentiam falta dessa simplicidade na hora de realizar pagamentos ou transferências. Até o fim de 2023, segundo dados do Bacen, o Brasil já contabilizava mais de 674 milhões de chaves cadastradas por mais de 161 milhões de usuários.

Pesquisas realizadas pelo Instituto Locomotiva (de 2019 a 2023) mostram que, em agosto de 2019, 45 milhões de brasileiros estavam sub ou desbancarizados, enquanto em janeiro de 2021 esse número havia caído para 34 milhões. A versão mais recente do levantamento aponta 24,4 milhões de sub-bancarizados (não movimentam suas contas) e 4,6 milhões de desbancarizados (sem conta) – e os números seguem caindo. Avançamos em quatro anos o que não aconteceu em décadas e, desde a introdução do Plano Real há 30 anos, não víamos uma transformação tão grande no cenário econômico brasileiro.

A pandemia ajudou nesse momento de inclusão financeira? Certamente! Sem a possibilidade de ir presencialmente ao banco, a digitalização das contas permitiu o acesso aos serviços mais básicos, do recebimento do auxílio emergencial ao pagamento de contas. Mas se não houvesse o Pix, será que ela impulsionaria a bancarização da mesma forma? Eu tenho certeza de que não, e a fila do caixa estaria bem maior. Para constatar isso, basta dar uma volta em qualquer grande centro urbano: até os vendedores ambulantes nos semáforos já aceitam pagamentos em Pix.

Recentemente, um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD) mostrou que mais da metade dos brasileiros (50,5%) acredita que, em 10 anos, não teremos mais moedas físicas ou cédulas de dinheiro. E vou além! Acredito que, em aproximadamente 15 anos, o sistema bancário estará totalmente tokenizado. As pessoas vão sacar valores, pagar e receber troco em tokens.

Para esse cenário acontecer, no entanto, a bancarização da população brasileira deve continuar crescendo nesse ritmo exponencial. Embora o Brasil ainda tenha grandes lacunas em infraestrutura, como acesso à internet e até à energia elétrica, uma das maiores barreiras para a expansão da inclusão financeira ainda é a falta de acesso à educação e a desinformação. De acordo com as estatísticas do IBGE, a maioria das pessoas que não utilizaram a Internet em 2022 tinham menos instrução ou eram idosos (com 60 anos ou mais de idade) e o motivo mais apontado foi não saber usar, sendo essa a resposta de 47,7% dos adultos e 66,1% dos idosos.

Os dados do IBGE mostram que 161,6 milhões de pessoas, com 10 anos ou mais, utilizam a Internet no país. Se contarmos que hoje existem mais celulares que pessoas no Brasil (segundo a 35ª Edição da Pesquisa do Uso da TI, conduzido pela FGV), é possível concluir que este não é o maior empecilho à bancarização, pois o acesso está disponível. O que dificulta é que muitos ainda não conseguem usá-la. Entre as pessoas sem instrução, 39,4% acessaram a internet em 2022 de acordo com o IBGE, percentual bem inferior ao dos demais grupos de escolaridade, como as pessoas com ensino superior incompleto (98,7%) e com superior completo (98,2%).

Dessa forma, começamos a ver o crescimento do uso das carteiras digitais, que muitas vezes utilizam símbolos em vez de palavras e tem uma interface de uso muito mais fácil de utilizar, ou seja, muito mais acessível a pessoas de todos os extremos. Soma-se a isso o impulsionamento feito pelo uso do Pix e vemos o boom da bancarização brasileira dos últimos anos, ultrapassando inúmeros desafios em um país que está em pleno desenvolvimento. A inclusão de desbancarizados e a democratização a sistemas financeiros está ajudando a transformar a realidade social de muitos brasileiros. Nesse cenário, bancos, fintechs e empresas com serviços financeiros devem continuar nesse movimento que hoje é muito mais que financeiro: é humano.


Sobre o autor 
Wagner Martin possui mais de 15 anos de experiência no setor de tecnologia, com amplo conhecimento de meios de pagamentos digitais, serviços comerciais, autogestão de clientes e operações de vendas e pós-venda.
 

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CAMILE GIL ORNELAS DE FREITAS
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