São Paulo, setembro de 2025 - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o cloridrato de iptacopana para o tratamento de adultos com Glomerulopatia por Complemento 3 (C3G)[1]. Trata-se do primeiro medicamento disponível para tratar a C3G, uma doença renal rara que causa inflamação e danos aos glomérulos renais, responsáveis por filtrar o sangue e produzir a urina1,[2].
O medicamento destaca-se por ser o único inibidor oral da via alternativa do complemento que atua seletivamente no que se acredita ser a causa subjacente da doença, pois reduz a proteinúria (quantidade anormal de proteínas na urina)2,[3],[4].
“Essa aprovação é importante para os pacientes com C3G, pois pela primeira vez está sendo disponibilizada uma terapia que trata o que acreditamos ser a causa da doença, oferecendo assim potencial para um novo padrão de cuidado”, informa Lenio Alvarenga, diretor médico da Novartis Brasil.
A submissão do medicamento foi baseada em dados do APPEAR-C3G, estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, envolvendo 74 adultos com C3G confirmada por biópsia, que apresentavam uma razão proteína/creatinina urinária (UPCR) ≥1 grama/grama e uma taxa de filtração glomerular estimada (eGFR) ≥30 mL/min/1,73 m² (NCT04817618)[5].
No estudo, os pacientes foram selecionados aleatoriamente para receberem o medicamento ou o placebo por 6 meses, seguidos de um período de tratamento aberto de 6 meses, no qual todos os pacientes receberam o cloridrato de iptacopana5. O desfecho primário de eficácia avaliou a variação percentual da proteinúria UPCR (relação de proteína/creatinina urinária) após 6 meses de tratamento5. Após 6 meses, observou-se uma redução de 35% em relação ao valor basal no UPCR de 24 horas no grupo do cloridrato de iptacopana em comparação ao placebo5.
Após o período inicial de 6 meses de tratamento, todos os pacientes foram tratados com o cloridrato de iptacopana por mais 6 meses5. Nos pacientes que receberam o cloridrato de iptacopana, a redução do UPCR de 24 horas observada aos 6 meses foi mantida aos 12 meses5. Nos pacientes que mudaram de placebo para o cloridrato de iptacopana, a magnitude da redução do UPCR de 24 horas entre 6 e 12 meses foi semelhante àquela observada nos pacientes inicialmente randomizados5.
No início deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) havia aprovado o cloridrato de iptacopana, medicamento da Novartis, como primeira monoterapia oral para tratar pacientes com Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN), outra doença rara que afeta as células do sangue[6].
Sobre o APPEAR-C3G
O APPEAR-C3G é um estudo multicêntrico de Fase III, randomizado, duplo-cego, em grupos paralelos e controlado por placebo, desenhado para avaliar a eficácia e a segurança do cloridrato de iptacopana oral (200 mg, duas vezes ao dia) em pacientes com C3G em rins nativos5.
O estudo compreende um período duplo-cego de 6 meses, no qual pacientes adultos foram randomizados na proporção 1:1 para receber o cloridrato de iptacopana ou placebo em conjunto com tratamento de suporte, seguido por um período aberto de 6 meses em que todos os pacientes recebem cloridrato de iptacopana (incluindo aqueles que previamente estavam no grupo placebo)5.
O desfecho primário para o período duplo-cego foi a redução da proteinúria em relação ao valor basal após 6 meses para o cloridrato de iptacopana em comparação ao placebo, medida da proteinúria de 24h estimada pela razão proteína/creatinina urinárias5.
Sobre a C3G
A Glomerulopatia por Complemento 3 (C3G) é uma doença renal rara, complexa e progressiva4,[7],[8]. A doença afeta pessoas de todas as idades, começando na infância e na vida adulta jovem4,8,[9]. De modo geral, a C3G é mais comum em homens do que em mulheres[10],[11],[12]. A cada ano, aproximadamente 1 a 2 novos casos de C3G por milhão de pessoas são diagnosticados em todo o mundo4.
O sistema complemento é uma parte fundamental do sistema imunológico inato do corpo, atuando como uma das primeiras linhas de defesa contra infecções2. Ele é composto por três vias: a via clássica, a via da lectina e a via alternativa do complemento[13],[14],[15].
Na C3G, a via alternativa do complemento torna-se desregulada, o que desencadeia a formação de depósitos da proteína C3 nos rins[16],[17],[18],[19]. Isso provoca inflamação e leva a uma lesão renal progressiva, culminando, eventualmente, na perda da função renal18,[20].
Entre os sintomas mais comuns dessa doença estão: proteína na urina (proteinúria), infecções recorrentes, fadiga, pressão arterial elevada, sangue na urina, ansiedade/depressão[21],[22].
Aproximadamente 50% dos pacientes com C3G evoluem para insuficiência renal em até 10 anos após o diagnóstico e necessitam de diálise e de transplante renal3,7.
Referências
[1] Diário Oficial da União. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-re-n-3.503-de-11-de-setembro-de-2025-655713494. Acesso em setembro de 2025.
[2] National Kidney Foundation. Disponível em: https://www.kidney.org/kidney-topics/complement-3-glomerulopathy-c3g. Acesso em setembro de 2025.
[3] Martín B, Smith RJH. In: Adam MP, Feldman J, Mirzaa GM, et al., editors. C3 Glomerulopathy. GeneReviews® [Internet]. Updated 2018. University of Washington, Seattle; 1993-2024. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1425/. Acesso em setembro de 2025.
[4] Schena FP, Esposito P, Rossini M. A Narrative Review on C3 Glomerulopathy: A Rare Renal Disease. Int J Mol Sci. 2020;21(2):525.
[5] ClinicalTrials.gov. Study of Efficacy and Safety of Iptacopan in Patients With C3 Glomerulopathy. (APPEAR-C3G). Available from: https://clinicaltrials.gov/study/NCT04817618. Acesso em setembro de 2025.
[6] RESOLUÇÃO-RE Nº 320, DE 24 DE JANEIRO DE 2025FABHALTA. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-re-n-320-de-24-de-janeiro-de-2025-608925463
[7] Lafayette R, Sidhu R, Proudfoot C, et al. Quality of life and fatigue burden in individuals living with Complement 3 Glomerulopathy – a real-world study. Nephrol Dial Transplant. 2024;39(Suppl 1).
[8] Smith RJ, Kavanagh D, Vivarelli M, et al. Efficacy and safety of iptacopan in patients with C3 glomerulopathy: 12-Month results from the Phase 3 APPEAR-C3G study. Presented at American Society of Nephrology (ASN) Kidney Week 2024; October 23-27, 2024; San Diego, CA
[9] Medjeral-Thomas NR, O’Shaughnessy MM, O’Regan JA, et al. Clin J Am Soc Nephrol. 2014;9(1):46-53
[10] Lee H, Kim DK, Oh KH, et al. Am J Nephrol. 2013;37(1):74-83.
[11] Bomback AS, Santoriello D, Avasare RS, et al. Kidney Int. 2018;93(4):977-985.
[12] Zahir Z, Wani AS, Gupta A, Agrawal V. Pediatr Nephrol. 2021;36(3):601-610.
[13] Merle NS, Church SE, Fremeaux-Bacchi V, Roumenina LT. Front Immunol. 2015;6:262.
[14] Thurman JM, Holers VM. J Immunol. 2006;176(3):1305-1310.
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[18] Caravaca-Fontán F, Lucientes L, Cavero T, Praga M. Nephron. 2020;144(6):272-280.
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[20] Mastellos DC, Reis ES, Ricklin D, Smith RJ, Lambris JD. Trends Immunol. 2017;38(6):383-394
[21] National Kidney Foundation. Complement 3 Glomerulopathy (C3G): Knowing the Signs and Symptoms. Available at: https://www.kidney.org/atoz/content/complement-3-glomerulopathy-c3g-knowing-signs-and-symptoms. Acesso em setembro de 2025.