Por Dr. Marcelo Müller – Médico-Veterinário, Mestre em Pesquisa Clínica e autor do livro “Meu Pet… Meu Mundo…”
A saúde do seu pet, a sua saúde e até o equilíbrio do planeta estão mais conectados do que parece. Esse é o conceito de Saúde Única (One Health): reconhecer que humanos, animais e meio ambiente compartilham os mesmos riscos e soluções.
No Brasil, essa abordagem ganhou força especialmente após a pandemia de COVID-19, que deixou claro o quanto precisamos integrar diferentes áreas da saúde. Zoonoses, segurança alimentar, mudanças climáticas e bem-estar animal são parte de um mesmo sistema, que só funciona quando tratado de forma conjunta.
O Brasil tem se consolidado como referência internacional em Saúde Única. Em 2024, o país alcançou marcos históricos:
Criação do Comitê Técnico Interinstitucional para Saúde Única.
Lançamento da Declaração de São Paulo sobre Saúde Única, consolidando sua posição de liderança na América Latina.
Reunião de Alto Nível do G20 sobre Saúde Única, realizada em 30 de outubro em colaboração com o Ministério da Saúde, que colocou o Brasil no centro das discussões globais sobre o tema.
O Ministério da Saúde organiza suas estratégias em 18 diretrizes e 92 macroações, estruturadas em sete eixos, incluindo:
fortalecimento institucional;
prevenção de epidemias e pandemias;
controle de zoonoses e doenças tropicais negligenciadas;
segurança alimentar;
enfrentamento da resistência antimicrobiana.
A Declaração de São Paulo estabeleceu prioridades como “fortalecimento das capacidades de Saúde Única” e “redução dos riscos de zoonoses emergentes e reemergentes”, confirmando o compromisso brasileiro com uma saúde mais integrada e preventiva.
As zoonoses são o melhor exemplo de como saúde humana e animal se cruzam:
Raiva – transmitida por animais, exige campanhas conjuntas de vacinação.
Leptospirose – causada por água contaminada com urina de roedores, impacta pets e pessoas em enchentes.
Influenza aviária e COVID-19 – reforçaram a importância da vigilância veterinária e da cooperação internacional.
Esporotricose – zoonose urbana em gatos no Rio de Janeiro que demanda políticas públicas integradas.
Resistência antimicrobiana – desafio global que compromete a medicina humana e veterinária.
Esses exemplos mostram que proteger os animais é também proteger os humanos.
Ainda existe a ideia de que o Médico-Veterinário é apenas o “médico dos bichos”, mas a realidade é bem mais ampla. Nossa atuação é estratégica para a saúde coletiva:
Segurança alimentar – inspeção e controle de carnes, leites e derivados.
Vigilância epidemiológica – atuação em surtos, epidemias e emergências sanitárias.
Saúde pública – prevenção de zoonoses e defesa do bem-estar animal como parte da saúde coletiva.
Colaboração interdisciplinar – integração com médicos, biólogos, engenheiros ambientais e outros profissionais.
Medicina integrativa e preventiva – protocolos individualizados que unem saúde física, emocional e bem-estar.
Promoção da longevidade animal – impacto positivo na saúde física e emocional dos tutores.
Não à toa, o mote da campanha nacional é: “O Médico-Veterinário também cuida de você”, reforçando a importância da profissão dentro da Saúde Única.
Quem convive com cães e gatos já pratica, muitas vezes sem perceber, a Saúde Única:
Vacinação e vermifugação – proteção para pets e famílias contra zoonoses.
Check-ups regulares – detectam precocemente problemas de saúde que podem afetar humanos e animais.
Controle de parasitas – evita transmissão cruzada entre espécies.
Alimentação consciente – crescente adesão a rações premium, alimentos naturais e formulações personalizadas.
Terapias integrativas – como acupuntura e fisioterapia, que promovem equilíbrio físico e emocional.
Planos de saúde pet – tendência que amplia acesso à prevenção e cuidados contínuos.
Cuidar da saúde do pet, portanto, é um investimento direto na saúde da família e na proteção coletiva.
Além dos marcos de 2024, cidades como Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro já adotam projetos integrados que unem médicos, veterinários e órgãos ambientais em:
programas de bem-estar animal,
vigilância de zoonoses,
proteção ambiental,
inspeção e segurança alimentar.
A profissão também é reconhecida pela Lei nº 5.517/1968, que regula o exercício da Medicina Veterinária no Brasil, confirmando o papel do Médico-Veterinário como agente de saúde pública.
A implementação da Saúde Única em países em desenvolvimento enfrenta obstáculos como falta de recursos e infraestrutura. No entanto, o Brasil tem potencial para avançar ainda mais com:
capacitação de profissionais multidisciplinares;
investimento em pesquisa colaborativa;
tecnologias de monitoramento epidemiológico;
redes internacionais de cooperação.
A COVID-19 mostrou que não existe saúde humana sem saúde animal e sem meio ambiente equilibrado. A Saúde Única é um compromisso ético e prático com a vida.
Nós, Médicos-Veterinários, somos guardiões dessa visão: não cuidamos apenas dos animais, mas também das pessoas e da sustentabilidade do planeta.
No fim das contas, cuidar dos animais é cuidar de nós mesmos. A Saúde Única não é só um conceito — é uma prática diária que salva vidas e protege o futuro.
Dr. Marcelo Müller é Médico-Veterinário com mestrado em Pesquisa Clínica, especializado em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, bem-estar animal e atendimento veterinário domiciliar. Atua na promoção de saúde preventiva e integrativa, com foco no diagnóstico precoce, respeito à senciência animal e fortalecimento do vínculo entre pets e tutores. Autor do livro “Meu Pet… Meu Mundo…” e defensor da abordagem de Saúde Única na medicina veterinária brasileira.
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PRISCILA GONZALEZ NAVIA PIRES DA SILVA
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