Rede de Proteção Digital comunicadoras negras, indígenas e quilombolas une cibersegurança, acolhimento e proteção jurídica para

Iniciativa inédita será lançada no Brasil, Peru e Argentina no dia 28 de Agosto

JFS
20/08/2025 13h01 - Atualizado há 1 dia

Rede de Proteção Digital comunicadoras negras, indígenas e quilombolas une cibersegurança, acolhimento e
Divulgação

Nove em cada dez jornalistas mulheres no Brasil já sofreram assédio online, e mais da metade recebeu ameaças diretas à integridade física. Na América Latina, mais de 15 mil comunicadoras foram alvo de ataques mediados por tecnologia, segundo dados da UNESCO e do InternetLab. A violência digital, que tem afetado cada vez mais comunicadoras, direciona-se principalmente às mulheres negras. 

O Brasil até avançou no ranking de segurança para jornalistas em 2024, mas ainda está entre os países que mais registram ataques virtuais. Na luta contra a violência de gênero e raça no ambiente digital, a Rede Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação (Rede JP) lança, no dia 28 de agosto, às 19h,  com transmissão ao vivo pelo YouTube Instagram, a Rede de Proteção Digital para Comunicadoras Negras (REPCONE), a primeira iniciativa na América Latina a unir cibersegurança, acolhimento e proteção jurídica para jornalistas e comunicadoras negras, indígenas e quilombolas. 

O evento marca o início de uma série de ações, campanhas de conscientização e articulação para fortalecer redes de proteção digital para comunicadoras negras na América Latina. “Proteger essas mulheres é proteger narrativas que sustentam a democracia e a pluralidade de vozes. A violência digital não silencia apenas indivíduos, mas comunidades inteiras", afirma Marcelle Chagas, coordenadora geral da Rede JP, Mozilla Fellow e idealizadora da REPCONE.

O lançamento vai reunir especialistas, jornalistas e defensoras de direitos humanos, do Brasil, Peru e Argentina, para debater os desafios e soluções diante do avanço da violência digital contra mulheres e grupos racializados. A mesa de abertura contará com nomes como Luciana Barreto (TV Brasil), Angela Chukunzira (Quênia/Mozilla Foundation), Sofía Carrillo (Peru/Red de Periodistas Afrolatinos), Kátia Brasil (Amazônia Real) e Estêvão Silva (advogado popular/ANAN). 

“Nos relatos que recebemos, a palavra que mais se repete é ‘solidão’. Muitas comunicadoras enfrentam ataques sozinhas, sem saber a quem recorrer, e entre mulheres negras, indígenas e quilombolas, essa vulnerabilidade é ainda maior, marcada pela intersecção entre racismo, machismo e desigualdade digital. O REPCONE nasce para mudar essa realidade, oferecendo formação, resposta coletiva e, sobretudo, uma rede de confiança que garante que nenhuma voz estará sozinha”, comenta Marcelle.

“Estudos também mostram que essas mulheres terminam abandonando o debate público, participando menos ou se retirando de intercâmbios nas redes sociais em uma tentativa de preservar sua saúde mental e atividades profissionais”, lembra Denise Mota, coordenadora de projetos da Rede JP na América Latina e da Red de Periodistas Afrolatinos.

Atuação

O acesso à REPCONE será totalmente gratuito. No lançamento, será aberto um programa com 50 vagas para comunicadoras de toda a América Latina, que receberão treinamento especializado em cibersegurança, materiais educativos, orientação psicológica e apoio jurídico. Além de oferecer esses serviços, a iniciativa também marcará o início de uma campanha de sensibilização nas redes sociais, com o objetivo de dar visibilidade ao tema e fortalecer a cultura de proteção digital entre comunicadoras.

Segundo Marcelle, a REPCONE vai atuar em três eixos principais: formação em cibersegurança, capacitando comunicadoras para prevenir e mitigar riscos digitais; acolhimento e apoio psicossocial, oferecendo suporte emocional e comunitário para vítimas de violência online; e proteção jurídica, com orientação e defesa legal especializada em casos de ataques virtuais. Para isso, contará com “especialistas convidados, muitos deles reconhecidos no jornalismo, na cibersegurança e na defesa dos direitos humanos, selecionados pela trajetória, credibilidade e alinhamento com os princípios da Rede”.

Violência em números

Estudos mostram que a violência digital contra mulheres negras não é aleatória, mas que se utiliza de estereótipos racistas e sexistas para tentar silenciar e deslegitimar com discursos de ódio, ameaças de violência física e sexual, exposição de dados pessoais e ataques que buscam minar a credibilidade profissional, questionando a competência e a seriedade do trabalho.

Um estudo do Repórteres Sem Fronteiras realizado no Brasil aponta que 8 em cada 10 jornalistas mulheres negras sofreram ataques virtuais nos últimos três anos, com aumento expressivo durante os períodos eleitorais e de cobertura sobre direitos humanos.

Pesquisa do Fórum de Jornalismo Argentino (FOPEA) revelou que 67% das jornalistas negras e racializadas já foram alvo de assédio digital, com ataques massivos via redes sociais após publicar matérias sobre questões raciais ou de gênero.

Sobre a Rede JP

Fundada em 2018, a Rede de Jornalistas Pretos Pela Diversidade na Comunicação (Rede JP) é uma organização não-governamental dedicada a democratizar a comunicação  e promover a participação de jornalistas negros nesse processo. A iniciativa se estrutura em três pilares principais: educação, representatividade e oportunidade, com o objetivo de promover a inovação e conexões estratégicas. A Rede JP atua como um elo entre aproximadamente 200 veículos de comunicação afrocentrados, grandes mídias, empreendedores, estudantes e comunicadores de diversas regiões do Brasil.  


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JOVENILIO FRANCISCO SOARES
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