Espetáculo do Àkàsà Coletivo Artístico propõe um mergulho sensível sobre as construções das masculinidades, com referências às culturas populares e aos saberes de terreiro
O Àkàsà Coletivo Artístico estreia em agosto o espetáculo Entre homens em fuga, meninos que sonham, que aprofunda a investigação do grupo sobre a construção das masculinidades e os impactos desse modelo sobre homens negros, periféricos e LGBTQIAPN+. A criação dá continuidade ao trabalho iniciado com FUGA, rotas de exaustão, e propõe uma reflexão sobre como padrões coloniais e violentos moldam o corpo, a sensibilidade e as relações desses sujeitos desde a infância.
A estreia acontece no dia 14 de agosto, no Centro de Referência da Dança, no centro de São Paulo, onde o espetáculo permanece em cartaz até o dia 17. Nos dias 23 e 24, a obra será apresentada no Espaço Cultural Adebankê, em Artur Alvim. A entrada é gratuita em todas as sessões.
A proposta do grupo parte da compreensão de que o modelo dominante de masculinidade, estruturado por lógicas coloniais e violentas, impacta não apenas os que estão ao redor, mas também os próprios homens que o reproduzem. A partir dessa visão, o coletivo direciona sua pesquisa para as raízes desse processo, com foco nas infâncias e nos atravessamentos que moldam desde cedo o comportamento masculino. Esse olhar resultou no projeto Meninos Também Podem e em ações formativas com instituições de ensino. O espetáculo integra o projeto Pau seco, florá, contemplado pelo 21º Programa VAI, e se propõe a aprofundar esse caminho por meio de uma dramaturgia que articula memória, sonho e escuta como ferramentas de reconstrução e diálogo.
A obra toma como ponto de partida a figura de Zé Pelintra, presente no imaginário popular brasileiro e ligada à malandragem, ao povo de rua e às religiões de matriz afro-brasileira. A partir dessa referência, o espetáculo propõe um encontro simbólico com personagens como as Mariás, as malandras e as pombagiras, criando uma cena que busca caminhos possíveis de diálogo entre homens e mulheres. A criação se desenvolve a partir de saberes ancestrais, populares e espirituais, explorando formas coletivas de repensar os modelos tradicionais de masculinidade.
Com direção e preparação corporal de Marcio Dantas, o trabalho tem concepção e performance de John Yuri, Bruno Faowmanma e Julia Amaro Medeiros. A criação dialoga com teatro, dança e performance, dissolvendo fronteiras entre linguagens. A trilha sonora original é assinada por Thiago Akobi, o figurino por Yuri Nascimento, a iluminação por Tati Santos e a produção geral por Renan Marangoni. A consultoria cênica é de Douglas Iesus.
A pesquisa que fundamenta o espetáculo se expandiu por meio de rodas de conversa com psicólogos, mestres de saberes populares e artistas. Esses encontros aprofundaram temas como infância, saúde mental, autocuidado, valores civilizatórios e religiosidade de matriz afro-brasileira. As reflexões geradas nesse processo permeiam diretamente a criação, unindo pensamento e prática cênica.
Entre homens em fuga, meninos que sonham se configura como uma experiência pautada na escuta, na memória e no sonho. A obra propõe uma travessia que parte da questão levantada em FUGA: se os modelos vigentes não atendem, como imaginar, em comunidade, outras possibilidades de existência?
Serviço | Espetáculo Entre homens em fuga, meninos que sonham
Duração: 40 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Entrada gratuita
Centro de Referência da Dança – CRD
Galeria Formosa, Baixos do Viaduto do Chá s/n
Praça Ramos de Azevedo – Centro Histórico de São Paulo, SP
Datas: 14, 15, 16 e 17 de agosto
Horários: quinta a sábado às 19h | domingo às 16h
Espaço Cultural Adebankê
Rua Durande, 175 – Artur Alvim, São Paulo – SP
Datas: 23 e 24 de agosto
Horários: sábado às 17h e 20h | domingo às 17h e 19h
Ficha técnica
Criação e performance: John Yuri, Bruno Faowmanma e Julia Amaro Medeiros
Direção e preparação corporal: Marcio Dantas
Consultoria cênica: Douglas Iesus
Trilha sonora: Thiago Akobi
Figurino: Yuri
Iluminação: Tati Santos
Produção geral: Renan Marangoni
Sobre Ákàsà Coletivo Artístico
O Ákàsà Coletivo Artístico começa a se desenhar no fim de 2022, durante o processo criativo do projeto “homens” na época. Em 2019 havíamos criado em conjunto com outras parcerias uma companhia de teatro que começou com a produção de peças para o público infantil, na segunda produção surgiu o projeto, Meninos Também Podem, dando início a uma reflexão sobre a educação infantil e sobre algumas diferenças e impactos na forma de educar e cuidar dos meninos, essa discussão já vinha de encontro com as pesquisas que Bruno Fowmanma e John Yuri haviam iniciado em seu trabalho de conclusão do curso de dança na Etec de Artes de São Paulo, e que ainda tinham vontade de revisitar. A peça Meninos Também Podem estreou da Galeria Olido e circulou por alguns espaços de cultura e espaços educacionais, promovendo também formações e rodas de conversa com os educadores.
A partir desse aprofundamento nos temas sobre a construção das masculinidades, os impactos da masculinidade tóxica em outros grupos, na sociedade e no corpo e psique dos próprios homens, tudo isso com todas as encruzilhadas em que a pesquisa nos levava, veio a necessidade de iniciar um projeto artístico voltado a trazer esse debate para o público adulto, nascendo assim o projeto, ‘homens’e esse projeto levou a um cruzo dos caminhos de alguns artistas. Os ensaios e pesquisas começaram e seguiram, com o aprofundamento e o amadurecimento foi se discutindo a necessidade de formular um novo coletivo, tudo isso foi colaborando para os temas da masculinidade, o corpo negro e as periferias serem os eixos de encontro desse novo coletivo, o coletivo ÀKÀSÀ surge promovendo já dois encontros entre artistas, parceiros e psicologos em duas rodas de conversa sobre esses eixos no ano de 2023.
O Àkàsà Coletivo Artístico surge no processo de refletir o amadurecimento dos artistas envolvidos nos eixos temáticos, refletindo agora também, mais assumidamente, um olhar para as culturas populares, o samba, as macumbas na busca de caminhos decoloniais de entendimento, reflexão e estética. O coletivo vem fazendo parcerias e tomando forma, pedindo licença para vir ‘em terra’ trazer em cena, em dança, e em poesia suas inquietações, encantos e elaborações sobre as mais diversas questões que nos atravessam quanto corpo-ser.
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EDIVALDO CLEMENTINO DA COSTA JUNIOR
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