Mais que localização, os bairros viram mapas afetivos em São Paulo

Em vez de buscar só metragem ou preço, paulistanos optam por permanecer no mesmo bairro, reforçando uma relação de pertencimento

JúLIA MATSUSHITA
15/08/2025 14h57 - Atualizado há 17 horas

Mais que localização, os bairros viram mapas afetivos em São Paulo
Acervo inCanto Urbano

Em São Paulo, uma cidade conhecida por sua fluidez, congestionamentos e ritmo frenético, um comportamento chama atenção no mercado imobiliário, a vontade de permanecer no mesmo bairro, mesmo diante de uma mudança de endereço. Para muitos moradores, o vínculo com o CEP fala mais alto do que a busca por um imóvel maior ou mais barato em outra região.

Há um orgulho quase identitário em viver no bairro de sempre. "O paulistano é bairrista com convicção", resume Julia Gagliardi, cofundadora e sócia da imobiliária inCanto Urbano. “Quando o paulistano muda, na maioria das vezes é para duas ou três quadras dali. Ele não quer abrir mão da padaria que frequenta, da feira de sábado, do movimento que já está acostumado.”

Especializada em um único bairro, o Paraíso, na zona sul da capital, a inCanto Urbano se tornou um termômetro dessa relação emocional com o território. Criada em 2019, a empresa tem um portfólio de mais de 300 imóveis, com o modelo de negócios centrado na escuta, no relacionamento e no conhecimento profundo do entorno. “Conhecer o bairro profundamente é o que nos permite compreender o que o cliente busca, mesmo quando ele não consegue colocar em palavras. O estilo de vida, os comércios, a proximidade de uma escola. São detalhes que só quem vive o entorno percebe e que fazem toda a diferença na hora da escolha,” diz Julia.

Os dados da imobiliária reforçam a percepção. Segundo último levantamento, mais de 40% dos seus compradores já moravam no bairro do Paraíso. “A decisão não é sobre recomeçar, mas sobre continuar. Mesmo com o aquecimento do mercado, o vínculo com o CEP parece pesar mais que a oportunidade de um negócio em outra região”, enfatiza.

Em tempos de deslocamentos constantes e ofertas abundantes, o paulistano escolhe ficar. Não por comodidade, mas por pertencimento. “A gente ouve com frequência os motivos que as pessoas querem mudar de casa, mas não de bairro. Em vez de procurar apenas um imóvel, essas pessoas buscam raízes e é esse sentimento de pertencimento que redefine o modo de morar em São Paulo”, acrescenta Gagliardi.

Entre o sotaque que muda discretamente de bairro para bairro, os costumes de cada esquina e os códigos silenciosos do comércio local, a capital revela uma característica pouco explorada, o paulistano é, acima de tudo, um sujeito de mapa afetivo. “É uma escolha que vai além da razão, é sobre permanecer onde suas memórias, rotinas e afetos já criaram raízes e onde morar não é apenas ocupar um espaço, mas sim continuar pertencendo a ele”, finaliza.


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JULIA BEZERRA VIEIRA MATSUSHITA
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