A Festa de Iemanjá em Fortaleza, celebrada há mais de 50 anos e tombada como patrimônio imaterial da cidade em 2018, é o tema central do livro "Iemanjá em Mares Verdes", da geógrafa e professora Ilaina Damasceno. A obra, que nasceu de uma pesquisa de doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF), investiga como as religiões de matriz africana utilizam o espaço público como palco de resistência e afirmação cultural. "A presença do corpo afro-brasileiro em rituais públicos é uma experiência estético-política que reinventa narrativas e territórios", destaca a autora. A obra será lançada no dia 13 de agosto, no Centro Cultural Belchior (Rua Pacajus, 123), na Praia de Iracema, em Fortaleza (CE), a partir das 14h. O livro também será lançado no dia 15 na Festa de Iemanjá, no aterro da Praia de Iracema. Na festa, o livro poderá ser acessado gratuitamente — haverá cartazes com qr code para download.
Com pesquisa de campo realizada entre 2011 e 2019, o livro revela como a festa na Praia de Iracema transcende o âmbito religioso, tornando-se um ato de visibilidade e luta por direitos. Damasceno ressalta que a performance dos participantes — com música, gestos e indumentárias — é uma forma de "fazer política com o corpo". A obra também destaca a relação entre a tradição nordestina e a ancestralidade afro-brasileira, mostrando como a devoção a Iemanjá, a "Grande Mãe", reforça identidades negras e indígenas no Ceará.
Para a autora, a escrita do livro representou um reencontro com suas próprias raízes. Natural de Quixadá, no sertão cearense, Ilaina cresceu entre práticas católicas populares e referências à Jurema Sagrada, mas só no Rio de Janeiro, onde mora atualmente, mergulhou de fato na umbanda e no candomblé. "O processo me transformou pessoal e academicamente, levando-me a me tornar cambone em um terreiro", compartilha. A pesquisa a aproximou de comunidades de terreiro, cujas vozes ecoam na obra.
Além de adaptar sua tese para um formato acessível ao público não acadêmico, Damasceno prepara um segundo livro, com entrevistas de pais e mães de santo organizadores da festa, previsto para novembro de 2025. "Iemanjá em Mares Verdes" é uma contribuição tanto para os estudos geográficos quanto para o movimento negro, ao evidenciar a força da religiosidade como instrumento de transformação social.
Sobre a autora
Ilaina Damasceno é doutora em Geografia pela UFF e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde integra o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB). Com trajetória acadêmica focada em relações étnico-raciais e espaço público, atua também como ekedji no Ilê Asé Abraça, no Rio de Janeiro. Seus trabalhos anteriores incluem coletâneas sobre juventude e urbanismo, sempre com enfoque nas dinâmicas culturais e políticas das periferias.
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VERIANA RIBEIRO ALVES
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