O Brasil na encruzilhada da mobilidade elétrica: proteger ou inovar?

Aleksandra Sliwowska Bartsch Cabrita*

JULIA ESTEVAM
28/07/2025 10h23 - Atualizado há 9 horas

O Brasil na encruzilhada da mobilidade elétrica: proteger ou inovar?
Thiago Silveira

O governo brasileiro anunciou recentemente o aumento do imposto de importação para carros elétricos e híbridos, elevando a alíquota de 10% para até 35%, dependendo do modelo. A medida tem como objetivo incentivar a produção local e proteger a indústria automotiva nacional, mas também gerou intensos debates sobre os impactos no mercado de veículos sustentáveis.

Segundo o governo, a iniciativa busca atrair montadoras para produzir no país, reduzindo a dependência de veículos importados e estimulando a geração de empregos na indústria automotiva tradicional — especialmente importante diante da transição dos motores a combustão para tecnologias mais limpas.

Por outro lado, críticos apontam que o aumento dos impostos pode retardar a adoção de veículos elétricos no curto prazo. Com a alta nos preços e a provável redução na oferta de modelos importados, consumidores terão menos opções e menor acesso à nova tecnologia.

Nesse contexto, a inauguração da fábrica da BYD no Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, promete mudar o jogo. Com um investimento inicial de R$ 3 bilhões, a planta terá capacidade para produzir até 150 mil veículos por ano, entre modelos elétricos e híbridos. Trata-se de um marco para a eletromobilidade no Brasil, que pode mitigar os efeitos negativos da nova política tributária.

A instalação da BYD deve gerar milhares de empregos diretos e indiretos, além de baratear os carros produzidos localmente em comparação aos importados. Outro benefício estratégico é a transferência de tecnologia: a presença da montadora chinesa pode acelerar a modernização da cadeia produtiva brasileira.

No entanto, o cenário não está isento de desafios. A operação da BYD conta com incentivos fiscais concedidos pelo governo da Bahia — sem eles, a competitividade da produção local pode ser comprometida. Além disso, a expansão da frota elétrica exige investimentos robustos em infraestrutura, como a ampliação da rede de eletropostos pelo país.

Além da BYD, outras montadoras, como a Great Wall Motors e a Caoa Chery, também anunciaram planos de ampliar a produção nacional de veículos elétricos, o que pode intensificar a concorrência e, no médio prazo, reduzir os preços ao consumidor.

O aumento da taxação sobre importados pode encarecer os veículos no curto prazo, mas, a longo prazo, a instalação de novas fábricas no Brasil pode tornar o mercado mais acessível e dinâmico. Com expertise em baterias e soluções de energia limpa, a BYD também pode impulsionar setores como o de armazenamento de energia solar, ampliando o impacto sustentável da operação.

O grande desafio do governo será encontrar o equilíbrio entre a proteção à indústria nacional e o estímulo à inovação. Se o país conseguir atrair mais investimentos e desenvolver uma cadeia de suprimentos local para baterias e componentes, poderá se consolidar como um player relevante no mercado global de veículos verdes. Caso contrário, corre o risco de perder o timing da revolução elétrica e se manter dependente de tecnologias externas.

*Aleksandra Sliwowska Bartsch Cabrita é economista e professora do Centro Universitário Internacional Uninter

 


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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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