Tratamento de lesões no joelho pode mudar após descoberta brasileira

Grupo liderado por diretor da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE) foi responsável por pesquisa que descreve Ligamento Oblíquo Anterior

VIVIANE BUCCI
17/07/2025 11h56 - Atualizado há 13 horas

Tratamento de lesões no joelho pode mudar após descoberta brasileira
Freepik/IA

Um grupo de médicos e pesquisadores brasileiros acaba de fazer uma descoberta importante para a medicina esportiva, relacionada ao joelho - uma parte do corpo frequentemente impactada nas atividades físicas: o Ligamento Oblíquo Anterior (AOL). A equipe é liderada pelo ortopedista Dr. Pedro Baches Jorge, especialista em cirurgia do joelho e diretor da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE), com atuação no Hospital Sírio-Libanês e na Santa Casa de São Paulo.

O novo ligamento pode ajudar a entender e tratar a instabilidade rotacional, um dos problemas mais desafiadores após lesões no joelho, que frequentemente persiste mesmo após a cirurgia do ligamento cruzado anterior (LCA), uma das lesões mais comuns em atletas. 

A descoberta

A estrutura foi identificada em março de 2020, durante estudos com joelhos de pacientes que passaram por amputações por problemas vasculares. Foram mais de 35 dissecações realizadas na Santa Casa de São Paulo, nas quais os pesquisadores observaram repetidamente uma estrutura diferente, com origem em uma região óssea na parte interna do joelho e inserção na tíbia, com uma posição oblíqua, na frente de outro ligamento já conhecido, o ligamento colateral medial (LCM). 

Essa nova estrutura foi batizada de Ligamento Oblíquo Anterior (AOL), em referência a outro ligamento já descrito na parte de trás do joelho, o Ligamento Oblíquo Posterior (POL). 

Estudos e publicações

Desde a descoberta, a equipe já publicou mais de 10 artigos científicos internacionais, incluindo análises anatômicas, exames de imagem e estudos clínicos. Um dos marcos foi a publicação do principal estudo sobre o AOL na conceituada revista Orthopaedic Journal of Sports Medicine, em 2024. Também foi demonstrado que esse novo ligamento pode ser visto em ressonâncias magnéticas, com métodos confiáveis. 

O que muda na prática médica? 

 A principal implicação clínica do AOL é estabilizar o movimento de rotação externa da tíbia (a parte inferior da perna), ajudando a controlar a instabilidade rotacional anteromedial (perda de controle do movimento do joelho para frente e para dentro), fator importante de falha em reconstruções isoladas do LCA. 

O grupo criou um algoritmo de reforço extra-articular baseado em testes utilizados por médicos para avaliar a estabilidade do joelho, como o Pivot Shift, o ADER test (gaveta anterior com rotação externa) e o LaER test (Lachman com rotação externa). O algoritmo, publicado no Video Journal of Sports Medicine (VJSM), orienta a reconstrução do AOL nos casos em que o problema de instabilidade rotacional (giro do joelho) persiste. “Ou seja, a reconstrução do AOL associada à reconstrução do LCA pode trazer aos pacientes, quando bem indicada, melhores resultados no médio e longo prazo”, fala Dr. Pedro. 

Desde 2020, mais de 200 cirurgias combinando a reconstrução dos dois ligamentos já foram feitas. A primeira série de pacientes, acompanhada por pelo menos dois anos, deve ser finalizada em breve — e os resultados iniciais são bastante positivos. 

“Acredito que estamos diante de uma mudança de paradigma. Ao entender que muitos pacientes possuem instabilidade em rotação externa, e que o AOL pode ser responsável por controlá-la, passamos a oferecer uma solução mais personalizada e eficaz. É um avanço que me entusiasma profundamente”, afirma o especialista.

Projeção internacional e próximos passos

A descoberta já vem sendo reconhecida fora do Brasil. Pesquisadores dos Estados Unidos, Chile, Itália e Argentina estão colaborando com o grupo brasileiro, e a reconstrução do AOL já está sendo feita em diversos países. “A mudança da maneira de se pensar e se entender a instabilidade em rotação externa e seu controle parecem ser um caminho sem volta entre os especialistas de joelho de todo o globo”, pontua Dr. Pedro. 

O próximo objetivo é a realização de ensaios biomecânicos controlados em peças cadavéricas, que devem avaliar o papel isolado do AOL e a eficácia de sua reconstrução.  Especialistas apontam que o entendimento sobre esse tipo de instabilidade e seu tratamento deve continuar evoluindo. 

O próximo passo será realizar estudos mais avançados em laboratórios com peças humanas para entender ainda melhor o papel do AOL e como sua reconstrução pode ajudar. “O principal desafio agora é obter recursos e estrutura para continuar as pesquisas”, conclui o médico.


Assessoria de imprensa da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE)

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