Verônica Yamada lança Tempos Amarelos no Festival do Japão com ficção sobre burnout e ancestralidade

"Tempos Amarelos" reflete sobre sobrecarga de trabalho e traumas familiares no mundo contemporâneo; obra será lançada no dia 11 de julho, em São Paulo, e depois passa pela Flip, no Rio de Janeiro

ANA FERRARI DA COM.TATO
03/07/2025 15h56 - Atualizado há 1 dia

Verônica Yamada lança Tempos Amarelos no Festival do Japão com ficção sobre burnout e ancestralidade
Editora SEDAS
 

Eu sempre acreditei que a literatura tem poderes; que é mágica, bela e generosa. Com Tempos amarelos, entendi que ela também é capaz de curar almas feridas e de proporcionar bons e vitais encontros.

Marina Yukawa, escritora e jornalista, é organizadora do Clube de Leitura Escritoras Asiáticas e faz parte do Coletivo de Escritoras Asiáticas e Brasileiras.

 

Em “Tempos Amarelos” (Editora SEDAS, 136 págs.), Verônica Yamada apresenta uma protagonista nipo-brasileira em um futuro próximo, adoecida pela intensificação de uma cultura de trabalho que conduz à desumanização. A narrativa parte de um cenário distópico, mas se transforma em uma healing fiction, gênero que trata da cura emocional.

O Brasil é o segundo país com mais pessoas sofrendo de síndrome de burnout. O esgotamento provocado pelo excesso de trabalho já afeta 30% dos trabalhadores brasileiros, ficando atrás apenas do Japão, que apresenta um índice de 70%. Os dados são de 2024 e foram divulgados pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANMT) e pela International Stress Management Association (ISMA), respectivamente.

Inspirada em sua própria vivência como mulher nipo-brasileira, Verônica percorre estereótipos associados às pessoas amarelas e a relação de cobrança extrema com o trabalho. “Eu mesma já passei por alguns burnouts e me sinto sobrecarregada o tempo todo”, explica a autora. “Queria mostrar que ninguém quer entrar em burnout, mas que nos sentimos sempre pressionados a produzir.”

A obra será lançada no durante o Festival do Japão, no dia 11 de julho. Verônica receberá os leitores em uma sessão de autógrafos às 14h, na alameda literária do festival. E, durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), estará com o coletivo das Escritoras Asiáticas e Brasileiras, na mesa 9 da Praça Aberta, durante todo o evento. 

Fenômeno editorial que tem se destacado entre autores de origem asiática, a healing fiction vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil. Com histórias que abordam temas como culpa, conflitos familiares e dramas no ambiente de trabalho, o gênero mergulha nos impactos emocionais dessas experiências, acompanhando também o processo de recuperação psicológica dos personagens.

Verônica ressalta como trazer esse formato ao contexto brasileiro permite explorar especificidades culturais únicas. “A maioria das famílias amarelas investe muito em educação, mas são bastante frias. Isso causa uma sensação de abandono e negligência parental.” Em “Tempos Amarelos”, os personagens Marina e Kaue refletem essa dinâmica familiar delicada. “Muitos filhos tentam fugir do controle dos pais, mas, ao mesmo tempo, acabam sempre desejando um amor que nunca vem como querem.”

 

Entre a exaustão e o inconsciente
 

“Tempos Amarelos” apresenta um futuro próximo onde as telas se alimentam da consciência das pessoas. Para monitorar os efeitos desse consumo, existem relógios que exibem a energia vital de cada indivíduo. No entanto, em uma sociedade marcada pela exigência extrema no trabalho, os humanos acabam desafiando seus próprios limites e entrando no chamado “battery-out”. 

Esse é o ponto de partida da história de Marina, uma mulher totalmente condicionada à rotina produtiva, a ponto de negligenciar até mesmo necessidades básicas como descanso e alimentação. Para evitar pausas, Marina utiliza uma sonda urinária e continua produzindo sem interrupções.

Enquanto Marina mergulha na inconsciência após seu “battery-out”, conhecemos Kaue, um homem que desperta de um coma iniciado após um acidente aos 18 anos. Agora com mais de 30, ele precisa reaprender a viver em um mundo transformado. Ao ver o corpo desacordado de Marina no mesmo hospital em que está internado, Kaue, que também tem origem nipônica, passa a encontrá-la em um espaço onírico, compartilhado durante o sono.

Nesse plano inconsciente, Marina e Kaue se aproximam. Ambos são confrontados com traumas antigos, e o contato entre eles os leva a refletir sobre o passado que os feriu e as possibilidades — ou limitações — de um futuro juntos. 

Para a autora, o romance mostra a importância de revisitar as origens para superar dores profundas. “Nunca existe apenas escuridão, vazio e dor. Mesmo que você não enxergue na hora, existe luz no fim do túnel.” Enquanto Kaue enfrenta o desafio de reconstruir sua vida desperto, Marina é guiada, em seu estado inconsciente, por uma figura enigmática semelhante a um corvo sem asas, que a leva a questionar suas certezas.

Ao longo da narrativa, o corpo se torna o território da narrativa: seja pelas manifestações dos transtornos alimentares de Marina, seja pelas marcas deixadas pela racialização de pessoas amarelas. A culpa também ganha forma concreta, representada por um cachorro da infância da protagonista. Assim, Tempos Amarelos transforma sofrimento em reflexão e cura, unindo crítica social e fantasia.

 

Da medicina à ficção sobre trauma e cura

 

Verônica Yamada é médica oftalmologista, escritora e editora. Nascida em São Paulo, passou parte da infância no Japão e no interior paulista, antes de retornar à capital, onde vive atualmente. Começou a escrever com o objetivo de publicar em 2019, após um período de burn-out que a afastou do trabalho por dois meses. 

Sua trajetória inclui diferentes gêneros e públicos. Depois da estreia com “A face obscura de Lívia”, lançou a autoficção “Loucura e Perversidade”, a fantasia “Herdeiros das Trevas”, o livro de contos “Código de Vingança” — premiado com o VII Prêmio Talentos Helvéticos — e, mais recentemente, a distopia “Carne de segunda”, que se tornou um best-seller na Amazon. Também publicou títulos infantis e participou de antologias.

Sua escrita é diretamente influenciada por autores como Machado de Assis, Franz Kafka e Virginia Woolf, além da delicadeza visual de Monet e a sensibilidade da obra “Antes que o café esfrie”. Sobre sua técnica, afirma: "Sou meio jardineira e meio arquiteta. Faço uma planilha de como quero cada capítulo, mas me permito fazer modificações. O fim de “Tempos amarelos”, por exemplo, foi mudado algumas vezes."

A autora explora traumas ligados à ancestralidade e às dificuldades emocionais herdadas por muitas famílias asiáticas. Como ela reflete em suas obras: “Nós sempre temos um vazio, uma espera, um desejo de agradar para que possamos ser amados.” 

“Tempos amarelos” é a primeira obra de healing fiction de Verônica. Após abordar traumas com desfechos trágicos em livros anteriores, a autora decidiu trilhar outro caminho. “Desta vez, me permiti escrever um final diferente, feliz. Acredito que isso mostra que eu também posso me curar, assim como meus personagens.”


Confira um trecho do livro:

Marina secou suas lágrimas e se pôs a pensar. Ela havia saído cedo da casa dos pais, porque queria ter seu próprio cantinho. Um lugar onde não sentisse a necessidade de agradar o tempo todo, onde não precisasse olhar para os pais e se lembrar de que eles não a amavam tanto quanto amavam seu irmão.”

 

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Agenda de Lançamentos de Tempos Amarelos – Verônica Yamada

Festival do Japão – São Paulo (SP)
Data: 11 de julho (sexta-feira)
Horário: 14h
Local: Alameda Literária – São Paulo Expo
Atividade: Sessão de autógrafos com a autora

Flip – Festa Literária Internacional de Paraty (RJ)
Data: De 30 de julho a 3 de agosto
Local: Praça Aberta – Mesa 9 | Coletivo de Escritoras Asiáticas e Brasileiras
Atividade: Presença da autora durante todo o evento com venda e autógrafos do livro


 

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ANA LAURA FERRARI DE AZEVEDO
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