Nos últimos anos, o burnout deixou de ser visto apenas como um mal-estar emocional ou um estado de fadiga profunda. Hoje, é reconhecido como um transtorno ocupacional grave, com impactos reais e duradouros no cérebro humano. A gravidade do cenário se reflete nos números: de acordo com dados do INSS, mais de 216 mil brasileiros foram afastados do trabalho por transtornos mentais e comportamentais em 2023, sendo a Síndrome de Burnout uma das principais causas. Para quem já passou do limite, o caminho de volta requer muito mais do que descanso: exige reabilitação neurológica, estratégias terapêuticas personalizadas e, em alguns casos, tecnologias avançadas.
Segundo o neurocientista Ricardo Galhardoni, cofundador da healthtech brasileira Bright Brains, o burnout provoca uma verdadeira desregulação da atividade cerebral. “As regiões responsáveis pelo foco, controle emocional e tomada de decisões entram em colapso funcional. É como se o cérebro perdesse temporariamente a capacidade de se autorregular diante do estresse”, explica o especialista.
Estudos com neuroimagem já demonstraram que pessoas em burnout crônico apresentam alterações importantes no córtex pré-frontal dorsolateral - região associada ao planejamento e ao autocontrole - e no sistema límbico, que regula nossas emoções. Além disso, há um impacto direto no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que controla a liberação de cortisol, o hormônio do estresse.
“Essa desregulação causa sintomas como fadiga física e mental persistente, falhas de memória e raciocínio lento, irritabilidade e reatividade emocional e sensação de “mente travada”, mesmo em repouso. Quando essas alterações se prolongam, descansar não é suficiente para a plena recuperação do paciente”, alerta Galhardoni.
Por que só descansar não resolve?
Embora tirar férias ou se afastar do trabalho possa ser um alívio temporário, isso raramente resolve o problema em profundidade. O burnout provoca alterações significativas no funcionamento do cérebro e exige uma abordagem de cuidado contínuo e multidisciplinar. “Psicoterapia, reorganização da rotina, apoio psiquiátrico e práticas de autorregulação emocional formam a base de um tratamento consistente, especialmente quando os sintomas se tornam persistentes”, detalha o neurocientista.
Em casos mais complexos, nos quais há prejuízos duradouros à memória, foco e estabilidade emocional, abordagens complementares são essenciais para o tratamento, como a neuromodulação não invasiva. “A técnica atua estimulando regiões específicas do cérebro com pulsos magnéticos ou elétricos de baixa intensidade, com o objetivo de reequilibrar circuitos neurais afetados pelo estresse crônico. Tem sido uma alternativa muito eficiente para tratar quadros graves de burnout, especialmente para pacientes que não respondem bem aos recursos tradicionais”.
A recuperação do burnout é um processo que exige tempo, paciência e, acima de tudo, um plano de cuidado consistente. Não se trata apenas de “descansar a mente”, mas de reconstruir, passo a passo, os caminhos que foram sobrecarregados por anos de estresse crônico. Isso envolve reconhecer os limites do corpo, buscar ajuda especializada e adotar práticas que favoreçam o reequilíbrio emocional e cognitivo. Abaixo, listamos cinco passos fundamentais para quem está tentando retomar o controle após um episódio de esgotamento extremo.
1. Reconheça os sinais cedo
O burnout nem sempre se manifesta como um colapso repentino. Em muitos casos, ele começa de forma silenciosa, com sintomas que costumam ser ignorados ou normalizados. Irritabilidade constante, apatia, sensação de vazio, cansaço que persiste mesmo após o descanso, insônia e dificuldade de concentração são sinais de que o corpo e a mente estão operando sob pressão excessiva. Reconhecer esses alertas precoces é fundamental para evitar o agravamento do quadro e permite que o cuidado comece antes da exaustão total.
2. Pare antes de colapsar
Adiar o descanso até o último limite é um dos principais gatilhos do burnout. O corpo envia sinais de alerta, mas muitos seguem tentando cumprir metas, prazos e expectativas até que o organismo simplesmente “desliga”. Afastar-se temporariamente do trabalho, mesmo que pareça uma decisão difícil, é muitas vezes necessário e legítimo. Essa pausa não deve ser vista como fraqueza, mas como um movimento de preservação da saúde física, mental e neurológica.
3. Busque apoio profissional
Burnout é um transtorno que exige tratamento, e isso inclui a escuta especializada de psicólogos, psiquiatras e, em alguns casos, neurologistas. O acompanhamento clínico permite identificar o grau de esgotamento, diferenciar o burnout de outros transtornos (como depressão ou transtornos de ansiedade) e propor um plano terapêutico adequado. Além da psicoterapia e, quando necessário, do uso de medicamentos, há abordagens complementares, como a neuromodulação não invasiva, que pode ajudar a restabelecer o equilíbrio neural em casos persistentes. O mais importante é compreender que enfrentar o burnout sozinho não é uma obrigação, nem uma boa ideia.
4. Reorganize sua rotina com consciência
A recuperação passa, também, por uma revisão profunda do modo de viver e trabalhar. Isso envolve repensar metas, redimensionar expectativas e estabelecer novos limites. É fundamental restabelecer ritmos mais humanos: horários com pausas reais, tempo para o lazer, alimentação adequada, sono regular e reconexão com atividades significativas. A rotina precisa deixar de ser fonte constante de estresse para se tornar uma aliada no processo de cura.
5. Aposte em práticas que regulam o sistema nervoso
Técnicas como meditação, yoga, respiração consciente, caminhadas ao ar livre, contato com a natureza e práticas corporais de atenção plena têm se mostrado eficazes na redução do estresse e na regulação do sistema nervoso autônomo. Essas atividades ajudam a reduzir a produção de cortisol (o hormônio do estresse), estimulam áreas cerebrais ligadas ao bem-estar e fortalecem a capacidade de autorregulação emocional. Incorporar esses hábitos de forma regular pode não apenas acelerar a recuperação, mas também criar uma base mais sólida para lidar com os desafios da vida cotidiana.
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RENATA DE OLIVEIRA SOARES
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