Itacaré (BA) celebra 2 de Julho com ampla programação

A Independência do Brasil começou e acabou na Bahia e Itacaré realiza ampla programação para marcar o importante capítulo da história do país; conheça todos os eventos e entenda os fatos que colocam o estado no centro da revolução

MÁRCIO LEAL | INSTITUTO TIJUÍPE
01/07/2025 10h46 - Atualizado há 4 dias

Itacaré (BA) celebra 2 de Julho com ampla programação
Reprodução

A Independência da Bahia é celebrada nesta quarta-feira (2/7). A data reafirma a força do povo, da cultura e da história do estado, onde o movimento iniciou em todo o país a partir de Cachoeira, no Recôncavo Baiano.

E Itacaré (BA) terá uma ampla programação de eventos para marcar a data, que começam a partir desta terça-feira (1º/7), organizada pela prefeitura e pelo Terreiro Ilê Asé Babá Wallamym. As atrações ocorrerão na Praça do Canhão e tomarão a Orla:

Terça (1º/7)

  • 14h - Oficina de Trança
  • 15h - Oficina de Guias e Colares de Orixás
  • 17h - Replantio do Canteiro 2 de Julho
  • 18h - Apresentação do projeto Inventariando o Cortejo de 2 de Julho de Itacaré: História, Memória e Patrimônio
  • 20h - Samba Duro do Porto de Trás
  • 22h - Samba de Terreiro em Homenagem aos Caboclos e à Catita

Quarta-feira (2/7)

  • 14h - Concentração para o Desfile Cívico
  • 14h30 – Hasteamento das Bandeiras
  • 15h – Início do Desfile pelas ruas da cidade
  • 15h30 – Apresentação das Alas na Praça São Miguel e encerramento com apresentações de fanfarras e grupos de capoeira

Entenda a história

O processo de independência do Brasil em terras baianas teve início na cidade de Cachoeira. No dia 25 de junho de 1822, a população concordou em proclamar D. Pedro II como chefe constitucional do Brasil, mesmo sob a ameaça de uma escuna militar portuguesa, fundeada no Rio Paraguaçu.

Em comemoração, começa em seguida um desfile pelas ruas de Cachoeira, sendo ainda celebrada uma missa. O desfile popular é alvo de tiros vindos da casa de um português e da escuna. O tiroteio segue por toda a noite e no dia seguinte.

Diante da reação da tropa portuguesa, os cachoeiranos proclamam uma Junta Conciliatória e de Defesa para o governo da cidade, em sessão permanente, recebendo a adesão de muitos portugueses. Dentre os brasileiros, destaque para Rodrigo Antônio Falcão Brandão, depois feito Barão de Belém, e Maria Quitéria de Jesus. Foi constituída uma caixa militar e instaram ao comandante da escuna para que cessasse o ataque, obtendo como resposta uma ameaça.

O povo reage. Tem lugar o primeiro combate, pela tomada da embarcação, que, cercada por terra e água, resiste, até a captura e prisão dos sobreviventes (28 de junho de 1822). As vilas do Recôncavo vão aos poucos aderindo a Cachoeira. Salvador se torna alvo de maiores opressões do brigadeiro Madeira de Melo, comandante das tropas portuguesas, e o êxodo da população para o Recôncavo é intensificado.

As municipalidades se mobilizam, treinando tropas, erguendo trincheiras. Pelo sertão vinham adesões. Posições estratégicas são tomadas nas ilhas, em Pirajá e Cabrito. Itaparica, que já aderira, é bombardeada por ordem de Madeira de Melo. O povo foge, engrossando as hostes do Recôncavo.

Nutrindo e abastecendo com suprimentos alimentares Salvador e o Recôncavo desde longa data, sobretudo com farinha de mandioca, as vilas de Camamu, Maraú e São José da Barra do Rio de Contas, atual Itacaré, manifestaram por meio de 14 ofícios à Junta Provisória na capital, entre agosto e setembro de 1822, que "com tiranos não combinam brasileiros corações", como lembra o Hino de 2 de Julho.

Em Cachoeira, é organizado um novo governo, para comandar a resistência, a 22 de setembro de 1822, sob a presidência de Miguel Calmon du Pin e Almeida (futuro Marquês de Abrantes). Em outubro, chega do Rio de Janeiro o primeiro reforço efetivo, sob o comando do general francês Pedro Labatut.

A tropa era formada quase toda por portugueses, já que não existia um exército nacional. Seu desembarque foi impedido, indo aportar em Maceió (AL), de onde veio por terra e conseguiu arregimentar mais soldados. Depois, Labatut é substituído pelo coronel José Joaquim de Lima e Silva (futuro Duque de Caxias).

Em 8 de novembro de 1822, trava-se em Pirajá uma das batalhas mais violentas da libertação da Bahia. Depois desse desastre e da derrota em Itaparica, o exército português não pôde renovar reforços para ir além da capital.

Nos primeiros meses de 1823, a situação de Salvador deteriora muito. Sem alimentos, as doenças matam cada vez mais pessoas. Diante dessa situação, o chefe português, Madeira de Melo, permite a saída dos moradores e cerca de 10 mil pessoas deixam a cidade.

Em maio de 1823, chega à costa da província a esquadra comandada por Thomas Cochrane para participar do bloqueio marítimo à capital. A derrota final de Portugal se dá em 2 de julho de 1823, mais de um ano depois.

Sentimento arraigado

A partir da Conjuração Baiana de 1799, o sentimento de independência ficou arraigado no povo. A Revolução do Porto, em Portugal, em 1820, teve repercussão na Bahia, onde moravam muitos portugueses. Em fevereiro de 1821, uma conspiração constitucionalista começa em Salvador, com a participação, dentre outros, do jornalista Cipriano Barata.

Os conspiradores queriam, como em Portugal, uma Constituição que limitasse o poder real. Os revoltosos forçam a renúncia do governador da Bahia, Conde da Palma, que era apoiado pelo então coronel Inácio Luís Madeira de Melo. E a Junta Governativa é constituída por brasileiros e portugueses.

Na Bahia, são formados os três partidos que seriam o combustível da luta: Partidários da Colônia (exclusivamente de portugueses), Constitucionalistas do Brasil (brasileiros e portugueses) e Republicanos (quase exclusivamente de brasileiros).

A 12 de novembro de 1821, os soldados portugueses saem pelas ruas de Salvador atacando os soldados brasileiros, num confronto corporal na Praça da Piedade, com feridos e mortos. A população começa a se retirar para o Recôncavo.

A 31 de janeiro de 1822, uma nova Junta Governativa é eleita e em 11 de fevereiro chega a notícia da nomeação de Madeira de Melo para comandante das Armas da Província - quem estava no comando era o brigadeiro Manuel Pedro, que fortalecera os nativos, pensando na guerra. Assim, a nomeação de foi um duro golpe no partido nacional.

A primeira mártir

A posse de Madeira de Melo é impedida pelos brasileiros, que defendem o nome de Manuel Pedro. O comandante português busca apoio junto aos comerciantes de Portugal, além da Infantaria (12º Batalhão), da Cavalaria e dos marinheiros. Os baianos contam com a Legião de Caçadores, a Artilharia e a Infantaria (1º Batalhão).

A 18 de fevereiro de 1822, reúne-se um conselho de vereadores, juízes e Junta Governativa para dirimir a questão da posse. Como solução, é proposta uma Junta Militar, sob a presidência de Madeira de Melo. Vitória dos portugueses.

Na madrugada de 19 de fevereiro, acontecem os primeiros tiros, no Forte de São Pedro, para onde acorrem as tropas portuguesas, vindas do Forte de São Bento. Há confrontos violentos nas Mercês, na Praça da Piedade e no Campo da Pólvora.

Os portugueses tomam o quartel onde se reunia o 1º Batalhão da Infantaria. Os soldados lusitanos atacam casas e pessoas e invadem o Convento da Lapa, assassinando a abadessa Sóror Joana Angélica. Surge a primeira mártir da independência da Bahia.

Madeira de Melo se prepara para bombardear o Forte de São Pedro. No dia seguinte, o forte se rende, evitando derramamento de sangue. O brigadeiro Manuel Pedro é preso e enviado a Lisboa.

A 2 de março de 1822, Madeira de Melo finalmente presta juramento perante a Câmara de Vereadores. Os brasileiros reagem com pedradas às ações militares do comandante português e, na procissão de São José (21 de março de 1822), os "europeus" são apedrejados.

Salvador assiste à debandada cada dia maior dos moradores, que aumenta com a chegada de um navio, dos que levavam tropas do Rio de Janeiro de volta a Portugal, que aporta na capital deixando seus soldados.

Diante da derrota, as tropas baianas recuam para o Recôncavo. A partir de então, começa o cerco a Salvador, onde se concentram os militares e os comerciantes portugueses. A cidade fica incomunicável, sem alimentos, sem munição.

As entradas de Salvador ficam praticamente interditadas pelas forças que defendem a independência. Madeira de Melo não tem outra alternativa, a não ser ir para o ataque.

Tradição

A Festa de 2 de julho é a memória e a história das lutas contra o jugo colonial português. Vitórias que só foram possíveis com as vidas e lutas de homens e mulheres, indígenas, escravizados e pobres.

Na força do tambor e no balanço do corpo, os povos de Terreiro reafirmam sua ancestralidade e resistência no Samba de Caboclo, parte essencial da Festa de 2 de Julho em Itacaré.

Essa celebração vai além da Independência da Bahia - é também a afirmação viva da espiritualidade afrobrasileira, da cultura dos orixás e da sabedoria dos caboclos.


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MÁRCIO LEAL GONÇALVES
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FONTE: Instituto Tijuípe (https://institutotijuipe.wixsite.com/institutotijuipe/post/itacare-celebra-2-de-julho-com-ampla-programacao)
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