Com curadoria de Maria Vragova e Luiz Gustavo Carvalho, a programação traz filmes que refletem sobre a história da Europa do Leste na segunda metade do século XX, a partir do olhar de diretoras como Eva Neymann, Ildikó Enyedi, Jasmila Zbanic, Kira Muratova, Lana Gogo Beridze, Larisa Shepitko, Leida Laius, Maria Saakian, Margarita Barskaia, Márta Mészáros, Natália Meshanínova, Ruxandra Zenide, Věra Chytilová e Wanda Jakubowska. “Os filmes apresentam ao público brasileiro um olhar feminino e plural sobre a história desses países e evocam ainda temas como igualdade de gênero, adoção e orfandade, questões caras ao universo de cada mulher e que continuam sendo de grande relevância na nossa sociedade contemporânea”, afirma Maria Vragova.
A premiada cineasta polonesa Hanna Polak é a convidada especial da mostra e vem ao Brasil para apresentar às sessões dos filmes As crianças de Leningradski (2005), indicado ao Oscar de Melhor Curta-Metragem Documentário, que mostra a dura realidade de crianças vivendo em cantos escuros e dormindo nos bancos da estação Leningradski, no centro de Moscou, e Algo melhor por vir (2014), vencedor de 23 prêmios internacionais, incluindo Trieste, Art DocFest Moscou, Documenta Madrid e DocFest Munique, que acompanha o cotidiano de famílias que vivem na "Svalka", um imenso lixão nos arredores do Kremlin, sob o regime de Vladimir Putin.
A diretora ainda participa de uma conversa sobre as interseções entre o cinema de ficção e o documentário na produção cinematográfica feminina do Leste Europeu. “A obra de Hanna Polak, marcada por um olhar extremamente humanista que nos recorda a riqueza do cinema documental polonês, evoca temas que encontram paralelos também na realidade brasileira. Sua presença possibilita-nos também uma reflexão sobre a contribuição que o cinema pode ter em processos de transformação social”, observa Luiz Gustavo Carvalho.
A sessão de abertura acontece no dia 25 de junho (quarta-feira), às 20h, com a exibição do filme Meu século XX (1989), da diretora húngara Ildikó Enyedi. O longa acompanha irmãs gêmeas separadas na infância, cujos caminhos se cruzam anos depois a bordo do Expresso do Oriente. Uma, tornou-se amante de um homem abastado; a outra, uma feminista anarquista. O filme traça uma narrativa alegórica sobre o papel da mulher na era moderna.
A programação traz duas produções inéditas: Quando o relâmpago brilha sobre o mar (2025), da cineasta ucraniana Eva Neymann. Estreado no Festival de Berlim, o documentário transforma, por meio de cenas cotidianas, sonhos e memórias, a cidade portuária de Odessa em um território marcado pela resiliência humana em meio à Guerra da Ucrânia, e Um pequeno segredo noturno (2023), da diretora russa Natália Meshanínova que conduz o espectador aos limites da adolescência e da intimidade, explorando os abismos que podem se ocultar mesmo nas famílias que parecem inteiras.
A cineasta húngara Márta Mészáros, em atividade até os dias atuais com uma carreira que ultrapassa sete décadas e uma obra marcada pelo diálogo entre ficção e documentário, está na programação com 5 filmes que abordam histórias de mulheres em busca de realizações pessoais, muitas vezes lutando contra o patriarcado presente tanto dentro de casa quanto na própria sociedade. Sua celebrada obra de 1975, Adoção, ganhou o Urso de Ouro na Berlinale, atribuído pela primeira vez tanto a uma mulher quanto a uma pessoa húngara. Em Nove meses (1976), vencedor do prêmio Fipresci do Festival de Cannes, assistimos, pela primeira vez na história do cinema europeu, um parto verdadeiro sendo integrado a um filme. A programação inclui também sua trilogia autobiográfica composta por Diário para os meus filhos (1982), Diário para os meus amores (1987), Diário para meu pai e minha mãe (1990), que traça a jornada da jovem órfã Juli (álter ego da diretora húngara) durante o conturbado período de pós-guerra na Hungria. Por meio de filmagens de filmes, associações autobiográficas e registros audiovisuais históricos, Márta Mészáros traça aspectos de uma abordagem da história que corroboram sua relevância como diretora e cronista de seu tempo.
A curadoria do evento selecionou títulos que abrangem um período de 8 décadas da cinematografia de diversos países do Leste Europeu. Muitos deles refletem os períodos em que foram realizados, constituindo hoje documentos audiovisuais de grande relevância histórica. É o caso da cineasta Wanda Jakubowska diretora de A última etapa (1948), primeiro filme realizado dentro de um campo de concentração (Auschwitz), filmado em 1948. Tendo como base as experiências pessoais da própria cineasta, que passou anos de sua vida como prisioneira naquele local, é uma das primeiras iniciativas cinematográficas para descrever o Holocausto.
A programação apresenta também obras que contemplam o olhar feminino diante de determinados fatos históricos da região, marcada durante o século XX por conflitos armados e tensões políticas, através dos filmes: Asas (1966), de Larisa Shepitko, no enredo a vida cotidiana de uma ex-piloto de caças que sonha em voltar a voar, Em segredo, (2006) de Jasmila Zbanic, narra a trajetória uma mãe solteira de Sarajevo que criou a filha com uma história fantasiosa sobre o marido, até ser confrontada a contar à filha sobre a real identidade dele, e O farol (2006), de Maria Saakian, mostra uma jovem que regressa à sua cidade natal, no norte da Armênia, para tentar resgatar seus avós, mas percebe que essa não é uma saída em razão do conflito bélico que acaba de eclodir e aprende a conviver com a guerra.
Toda programação está disponível no site: sescsp.org.br/lesteeuropeu
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VALERIA MAGNABOSCO BLANCO
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