Caminhões elétricos ganham força no mundo com apoio da tecnologia

Estudo projeta mercado global acima de US$ 128 bilhões até 2029, enquanto Brasil avança em ritmo mais cauteloso

LETICIA VICTORIA DA SILVA PEREIRA
11/06/2025 19h04 - Atualizado há 1 dia

Caminhões elétricos ganham força no mundo com apoio da tecnologia
Créditos: Freepik

O avanço tecnológico tem desempenhado papel central na expansão do setor de caminhões elétricos. Inovações em baterias de íons de lítio com expectativa de migração para baterias de estado sólido , somadas ao uso crescente de automação para otimização de desempenho e prevenção de falhas, estão impulsionando o mercado global.

De acordo com a consultoria Mordor Intelligence, o segmento deve atingir um volume de negócios superior a US$ 128 bilhões nos próximos quatro anos. No Brasil, porém, o desenvolvimento é mais tímido: até o momento, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) contabilizou 821 unidades emplacadas em 2024.

Carlos Lopes, engenheiro com mais de duas décadas de experiência em eletrificação de frotas, explica que montadoras ao redor do mundo têm intensificado investimentos em pesquisa e desenvolvimento, bem como estabelecido parcerias estratégicas com fabricantes de baterias e desenvolvido plataformas modulares para diferentes aplicações.

No entanto, o cenário brasileiro ainda é desafiador. Segundo ele, países como China, Estados Unidos e membros da União Europeia contam com políticas públicas mais consolidadas para o setor, o que acelera a transição. Já no Brasil, o crescimento ainda se dá de forma experimental, concentrado em frotas-piloto e operações urbanas.

“A produção ainda enfrenta desafios, como o alto custo das baterias, a escalabilidade da fabricação e o desenvolvimento de plataformas dedicadas. Já a operação ainda é mais complexa, levando em conta a infraestrutura de recarga, a gestão térmica das baterias, o peso adicional do sistema elétrico e a necessidade de adaptação da logística para aproveitar os pontos de recarga e maximizar a disponibilidade dos veículos”, avalia o engenheiro, que há mais de 25 anos atua no setor elétrico.

Baterias mais eficientes e logística adaptada

A evolução da autonomia é um dos grandes trunfos esperados para os próximos anos. Lopes projeta que, até 2030, caminhões elétricos para uso pesado possam alcançar de 400 a 600 quilômetros com uma única carga. “A introdução das baterias de estado sólido pode potencializar essa expectativa, reduzindo o tempo de recarga e prolongando a vida útil dos componentes. Contudo, o crescimento da infraestrutura de recarga será decisivo para que essa evolução se traduza em benefícios reais para o setor”, analisa.

“A logística de cargas pesadas também precisa se adaptar à nova realidade. Atualmente, a autonomia dos caminhões elétricos ainda não permite rotas muito longas sem pontos de recarga intermediários, o que exige um replanejamento logístico eficiente”, acrescenta o engenheiro, que tem pós-graduação em Engenharia Mecatrônica pela UNESP.

Experiente em projetos com diversas montadoras instaladas no Brasil, Lopes também observa que soluções como hubs de recarga ou troca de baterias têm sido adotadas em algumas operações. Essas estruturas focadas na mobilidade elétrica têm se mostrado eficazes especialmente em trajetos urbanos ou de curta distância.

Formação técnica e visão estratégica

Outro ponto decisivo para o avanço do setor no Brasil é a capacitação de profissionais. A ausência de mão de obra qualificada para lidar com sistemas de alta voltagem e tecnologias embarcadas limita o ritmo da eletrificação.

“No Brasil, ainda há uma carência significativa de profissionais treinados para lidar com sistemas elétricos de alta tensão, eletrônica embarcada e protocolos de segurança”, avalia o especialista.

No mercado internacional, as políticas públicas para redução de emissões de carbono e a demanda por operações mais sustentáveis mantêm o setor em ritmo acelerado. No Brasil, o crescimento tende a ser mais seletivo, com foco inicial em segmentos como entregas urbanas, transporte refrigerado e iniciativas empresariais voltadas à sustentabilidade.

“A pressão por iniciativas de boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) e a redução de custo total de operação deve acelerar essa adoção nos próximos cinco a dez anos”, destaca.

Apesar da percepção de que a mudança se resume à substituição de motores a combustão por baterias, Lopes enfatiza que a transformação exige revisão completa da cadeia logística, desde a manutenção dos veículos até o planejamento de rotas e integração com sistemas energéticos. “Quando bem estruturada, a eletrificação pode reduzir significativamente os gastos operacionais e reforçar o posicionamento sustentável das empresas”.

Por fim, ele ressalta a importância da atuação conjunta entre empresas, fornecedores e centros de inovação para impulsionar o setor. “Parcerias estratégicas com fornecedores, centros de pesquisa e operadores logísticos especializados podem acelerar a transição energética no setor de transporte pesado. Enquanto isso, resta ao Brasil superar desafios estruturais e investir em infraestrutura e capacitação para acompanhar o ritmo da evolução global”, pontua Lopes.


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