Lucas Anjos*
A Inteligência Artificial (IA) deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma realidade presente e transformadora no mundo empresarial. Tecnologias computacionais inspiradas na cognição humana otimizam processos, personalizam interações e impulsionam a inovação numa vasta gama de setores. Ferramentas como o ChatGPT e Google Gemini democratizaram o acesso à IA Generativa (GenAI), e muitas empresas sentem a pressão de adotar essas tecnologias para manter a competitividade.
Contudo, essa corrida pela inovação levanta uma série de preocupações práticas para as organizações:
Embora a IA ofereça vantagens significativas, a falta de preparação para os seus desafios legais e éticos expõe as empresas a riscos consideráveis: incidentes de segurança, multas, danos reputacionais e perda da confiança dos clientes. Este artigo explora a evolução da IA, com foco nos agentes autônomos, e oferece orientações práticas sobre como navegar pelos desafios da conformidade, permitindo que as empresas inovem de forma responsável e segura.
Entendendo a Evolução: Dos Chatbots aos Agentes de IA
Para compreender os riscos e oportunidades associados à IA, é útil conhecer a sua evolução recente. Um exemplo claro é a transformação dos chatbots em agentes de IA.
O Início (LLMs Básicos): Inicialmente, as interações com “Grande Modelo de Linguagem” como as primeiras versões do ChatGPT eram pontuais, sem retenção de memória ou contexto entre as requisições. Exemplo: um chatbot simples que respondia a perguntas frequentes sem histórico da conversa.
Incorporação de Memória: Posteriormente, surgiu a capacidade de reter o contexto da conversa, permitindo diálogos mais fluidos. Exemplo: assistentes virtuais que acompanham o fluxo da interação com o cliente.
Acesso a Dados Externos (RAG): O passo seguinte foi dotar os agentes da capacidade de buscar informações em bases de dados externas, como documentos internos da empresa (PDFs, Excels), através de técnicas como o RAG (Retrieval-Augmented Generation). Exemplo: um agente que consulta o manual de um produto para responder a uma dúvida específica.
Interação com Ferramentas (APIs): A arquitetura evoluiu para permitir que os agentes utilizem ferramentas e se conectem a outros sistemas via APIs. Exemplo: um agente capaz não só de responder a perguntas, mas também de agendar uma reunião ou iniciar um pedido num sistema empresarial.
Sistemas Multiagentes e Feedback: A fronteira atual inclui agentes que aprendem com feedback e sistemas onde múltiplos agentes colaboram em tarefas complexas. Exemplo: um sistema onde um agente analisa dados de vendas, outro cria uma campanha de marketing baseada nessa análise, e um terceiro monitoriza os resultados.
Essa rápida evolução, embora traga capacidades avançadas, também aumenta a complexidade e os pontos de contacto com dados sensíveis e processos críticos do negócio, tornando a conformidade ainda mais essencial.
O Desafio Central: Garantir a Conformidade na Era da IA
A rápida adoção da IA, especialmente a generativa, levanta a questão central: a tecnologia está sendo utilizada da forma correta pelas empresas? Como garantir que a implementação respeita as leis e regulamentos aplicáveis?
A preocupação com a conformidade regulatória e o uso ético da IA é crescente e justificada. A implementação destas tecnologias envolve quase sempre o tratamento de grandes volumes de dados, que podem incluir:
Navegar neste cenário exige atenção a múltiplas legislações (LGPD, Marco Civil da Internet, Lei de Direitos Autorais) e a regulamentos setoriais ou específicos para IA que surgem no Brasil e globalmente. A falta de conformidade representa não apenas um risco legal, com multas e penalidades, mas também um sério risco reputacional.
Adicionalmente, a natureza de "caixa preta" de muitos sistemas de IA “As a Service” (oferta de soluções, ferramentas, sistemas e softwares baseados em IA em formato de serviços), dificulta a compreensão dos seus processos de tomada de decisão. Isso torna desafiante garantir a ausência de vieses, a segurança dos dados e a própria conformidade legal.
Por Onde Começar? Passos Essenciais para a Conformidade em IA
Diante deste cenário, a governança de IA torna-se fundamental. Não se trata apenas de cumprir regras, mas de incorporar boas práticas desde a concepção e desenvolvimento dos sistemas. Regulamentações globais e projetos de lei no Brasil (como o PL 2.338/2023) indicam alguns passos essenciais:
Conclusão: Inovação com Responsabilidade
A jornada da Inteligência Artificial oferece um potencial transformador imenso para as empresas. No entanto, para colher os benefícios de forma sustentável, a governança de dados e a conformidade legal devem ser tratadas como prioridade máxima.
Iniciar com uma compreensão clara de como a IA é usada na organização, adaptar as políticas existentes e investir em conhecimento sobre o cenário regulatório são passos fundamentais. Agir proativamente não só mitiga riscos, mas também constrói confiança e posiciona a empresa para inovar de forma ética, responsável e em conformidade com a lei.
* Lucas Anjos é advogado no escritório Cerveira, Bloch, Goettems, Hansen & Longo Advogados Associados, pós-graduando em compliance, auditoria e controladoria pela PUC-RS, atuante no consultivo empresarial, proteção de dados e inteligência artificial. Certificado em LGPD pela IAPP - International Association of Privacy Professionals. Membro da Comissão de Privacidade, Proteção de Dados e Inteligência Artificial da OAB-SP.
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MURILO DO CARMO JANELLI
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