Diante do crescimento acelerado do uso de redes sociais por crianças e adolescentes, cresce também a urgência em discutir o papel da sociedade — e, em especial, das famílias — na formação digital das novas gerações. Enquanto propostas governamentais como a exigência de verificação de idade por inteligência artificial ganham espaço no debate público, especialistas alertam que soluções exclusivamente tecnológicas são insuficientes para enfrentar um problema que é, antes de tudo, humano.
Divulgação Marcelo Senise
Para o sociólogo Marcelo Senise, presidente do Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial (IRIA), confiar a proteção infantil a algoritmos e sistemas automatizados pode gerar uma perigosa sensação de controle. “Estamos diante de um desafio que exige presença, diálogo e responsabilidade compartilhada. Proteger de verdade vai além de apertar um botão”, afirma.
Senise chama atenção para os riscos associados ao uso de tecnologias como o reconhecimento facial para determinar a idade de usuários, ressaltando questões éticas, falhas técnicas e ameaças à privacidade de crianças e adolescentes. Mas seu alerta vai além das ferramentas: ele aponta para a ausência de políticas públicas robustas de educação digital e para a tendência de governos e plataformas buscarem soluções simbólicas, de fácil comunicação, mas de eficácia duvidosa.
Nesse cenário, escolas e famílias precisam atuar de forma conjunta, conscientes de que a formação ética e emocional das crianças no ambiente digital não pode ser delegada apenas à tecnologia. A experiência cotidiana revela mudanças significativas no comportamento infantil, muitas vezes moldado por conteúdos violentos, sexualizados ou distorcidos, consumidos sem mediação ou reflexão.
Para responder a esse desafio, iniciativas têm surgido em diversas comunidades escolares e espaços de formação, com o objetivo de promover encontros entre pais, educadores e especialistas. A proposta é simples, mas essencial: convidar as famílias a refletirem sobre os impactos do uso desordenado da tecnologia no cotidiano dos filhos — e sobre como retomar, com firmeza e afeto, o protagonismo na orientação digital.
Mais do que oferecer respostas prontas, esses encontros visam fortalecer laços. Afinal, como aponta Senise, não existe ferramenta mais eficaz na proteção infantil do que adultos atentos, presentes e comprometidos com a formação ética de suas crianças. A tecnologia pode ajudar, mas não substitui a presença. E esse, talvez, seja o maior desafio da nossa era.