Especialistas alertam para riscos do uso de medicamentos como pré-treino

Febre entre frequentadores de academia, o consumo de anti-inflamatórios, relaxantes musculares e até remédios para disfunção erétil pode prejudicar o desempenho e comprometer a saúde

AMANDA CARVALHO
09/04/2025 11h08 - Atualizado há 1 semana

Especialistas alertam para riscos do uso de medicamentos como pré-treino
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A busca por mais rendimento e menos dor tem levado muitos praticantes de atividade física a recorrer a medicamentos por conta própria — uma prática comum, mas que pode trazer sérias consequências. Especialistas do Hospital Santa Catarina – Paulista alertam para os riscos do uso indiscriminado de anti-inflamatórios, relaxantes musculares e até da tadalafila, substância indicada para disfunção erétil, mas cada vez mais usada como pré-treino, principalmente por jovens.

Segundo o cardiologista Dr. Nilton José Carneiro, o uso frequente de anti-inflamatórios, especialmente sem orientação médica, pode afetar o sistema cardiovascular de forma significativa. “Esses medicamentos interferem diretamente nos vasos sanguíneos e na função renal, podendo descontrolar a pressão arterial e aumentar o risco de complicações como infarto, AVC e insuficiência cardíaca”, afirma o especialista. Esse risco é ainda maior em pessoas com doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes e tabagismo.

Carneiro destaca que a combinação entre o uso de anti-inflamatórios e exercícios intensos pode ser perigosa. “Durante a prática esportiva, o sistema cardiovascular já está exigido — há aumento da frequência cardíaca e da pressão. Somar isso ao uso desses fármacos pode potencializar efeitos adversos”, alerta. Ele lembra que dores crônicas devem ser tratadas de forma adequada, com acompanhamento de especialistas como fisiatras, ortopedistas e anestesiologistas. “Existem várias abordagens seguras para aliviar a dor sem recorrer ao uso indiscriminado de remédios.”

Outro medicamento que virou “moda” nos bastidores das academias é a tadalafila, mais conhecida por sua indicação no tratamento da disfunção erétil. De acordo com o urologista Dr. Alexandre Sallum, também do Hospital Santa Catarina – Paulista, o uso da substância como pré-treino se baseia em uma crença sem fundamento. “A ideia de que a tadalafila melhora o desempenho físico por causar vasodilatação é apenas especulativa. Não existe nenhuma evidência científica de que esse uso traga benefícios, e ele pode ser perigoso”, esclarece.

Entre os efeitos colaterais estão taquicardia, falta de ar, dor de cabeça intensa e alterações na pressão arterial. “Em casos mais graves, pode haver infarto ou AVC. O uso sem prescrição é um risco real, principalmente para quem já faz uso de outros medicamentos, como os anti-hipertensivos”, afirma Sallum. O médico também alerta para um problema crescente: a dependência psicológica entre jovens. “Muitos acreditam que só conseguem ter bom desempenho sexual com o uso do remédio, o que causa um ciclo de insegurança e uso contínuo sem necessidade clínica.”

O ortopedista Dr. Fábio Datti, do Hospital Santa Catarina – Paulista, chama a atenção para outro hábito comum entre praticantes de musculação: o uso de relaxantes musculares após o treino. “Esses medicamentos podem mascarar dores que fazem parte do processo natural de adaptação e crescimento muscular, como as microlesões induzidas por treinos de resistência. O uso indiscriminado interfere até na recuperação, prejudicando a síntese de proteínas e o reparo dos tecidos musculares”, explica.

Datti lembra que os relaxantes musculares atuam no sistema nervoso central e podem causar efeitos como sonolência, tontura e dificuldade de concentração. Já os anti-inflamatórios, além de afetarem a função digestiva e renal, são hoje desaconselhados em tratamentos de lesões musculares agudas. “Eles atrapalham o processo inflamatório natural necessário para a regeneração dos músculos. O ideal é recorrer a estratégias como gelo, repouso, alongamentos, hidroterapia ou exercícios leves de baixo impacto.”

O uso consciente de medicamentos deve ser sempre guiado por orientação médica. A automedicação pode comprometer não só o rendimento, mas a saúde a longo prazo. “O exercício físico é um grande aliado da saúde, mas precisa ser feito com responsabilidade. Medicamentos não são pré-treino — e quando usados sem necessidade, viram um risco desnecessário”, finaliza Carneiro.

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AMANDA RIBEIRO DA SILVA CARVALHO
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