Recentemente, a Netflix lançou a série britânica Adolescência, que tem causado grande surpresa e alvoroço, principalmente entre pais, mães e educadores. O principal tema levantado é a inserção e vitimização de menores de idade por aproximação ideológica com grupos de supremacia masculina. Tais grupos pregam a inferioridade, sujeição, controle, humilhação, agressão e até morte das mulheres. São alguns deles: MGTOWN, Incels e Redpills.
Surpreendente não foi o ocorrido, mas a reação das pessoas. Basta observar as redes sociais – Facebook, Instagram, TikTok – e ler os posts e comentários. A escalada de conteúdos agressivos contra mulheres tem se tornado cada vez mais evidente. Como isso passou despercebido?
Desde a pandemia, pesquisas e análises sobre grupos misóginos têm revelado o impacto negativo dessas comunidades na sociedade, assim como o crescimento alarmante de discursos e atitudes violentas. Diante desse cenário, surge uma questão inevitável: o que os pais podem fazer em casa para impedir que seus filhos sejam expostos a esse tipo de conteúdo? A resposta é simples: nada.
É admirável a iniciativa de alguns especialistas em indicar maior aproximação dos pais com os filhos, diálogo, supervisão de redes sociais etc. Assim como a iniciativa de pais e educadores em buscarem boas literaturas que apoiem na compreensão e nas ações – aqui indico "A Geração Ansiosa", de Jonathan Haidt, e "Redes Sociais Digitais na Educação Brasileira: Seus Perigos e Suas Possibilidades", do historiador e professor Rodrigo Otávio dos Santos – porém tais ações são paliativas, não resolvem e nem protegem.
Segundo a Agência Brasil, de 2023 até agora, o Brasil registra a preocupante média de 184 assassinatos de pessoas LGBTQIAPN+ por ano. No mesmo período, mais de 1,2 mil feminicídios foram registrados. No entanto, vale destacar: a homofobia, assim como o racismo e o nazismo/antissemitismo, é crime. Já o discurso de ódio contra as mulheres, não. Além de não ser criminalizado, tornou-se um mercado milionário em expansão, com milhares de páginas, cursos, mentorias e gurus lucrando diariamente com essa indústria.
“Coincidentemente”, pesquisas indicam que a idade dos agressores e assassinos de mulheres tem diminuído. Antes de 2010, a maioria tinha entre 45 e 60 anos; desde 2018, 72% estão na faixa etária de 21 a 40 anos, segundo a EMERJ. Justamente o público com maior acesso ao mundo digital – onde esses grupos misóginos atuam com mais força.
Para proteger os nossos filhos e filhas, um passo fundamental é apoiar a criminalização do discurso de ódio contra as mulheres, enfraquecendo esses grupos na raiz. O Projeto de Lei 872/2023, da deputada Dandara Tonantzin (PT-MG), com proposta inicial de Valeska Zanello, está em tramitação na Câmara dos Deputados e busca definir a misoginia como qualquer manifestação que inferiorize, degrade ou desumanize mulheres, baseada em preconceito de gênero ou argumentos de supremacia masculina. As penas previstas vão de um a três anos de reclusão e multa, podendo chegar a dois a cinco anos e multa se o crime for cometido por meio de redes sociais, comunicação social ou com intuito de lucro.
Apoiar essa iniciativa e outras ações semelhantes pode fazer a diferença. É importante cobrar os nossos representantes políticos, apoiar movimentos sociais, assinar petições e denunciar conteúdos de supremacia masculina nas próprias plataformas. Pequenas ações coletivas podem contribuir para um ambiente mais seguro para as futuras gerações.
*Relly Amaral Ribeiro é assistente social, mestre em Serviço Social e Políticas Sociais, professora e tutora dos cursos de pós-graduação em Serviço Social da Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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