Nos últimos tempos, a XP voltou a ser alvo de acusações sobre a sua operação, desta vez pela empresa de research americana Grizzly Research. A alegação central do relatório divulgado é que a rentabilidade da companhia seria sustentada por um modelo de negócios semelhante a um esquema Ponzi. No entanto, uma análise mais profunda dos produtos financeiros oferecidos e da estrutura da empresa sugere uma realidade diferente, mostrando que não configura um esquema de pirâmide, na minha opinião baseada em mais de 10 anos de atuação no mercado. Vou desenvolver meu raciocínio a seguir:
Boa parte das críticas ao modelo da XP gira em torno do Certificado de Operações Estruturadas (COE), um produto financeiro relativamente sofisticado que combina ativos diversos para oferecer proteção e retorno aos investidores. Para compreender a estrutura, podemos imaginar o COE como uma “caixa de aço” na qual são combinados diferentes produtos financeiros, como títulos públicos e opções de compra de ativos. Essa combinação permite que o investidor participe da valorização de determinado ativo sem correr risco total de perda do capital investido.
A principal questão levantada no relatório da Grizzly Research parece se apoiar no desconhecimento sobre como essas operações funcionam. O fato de a XP lucrar significativamente com derivativos não indica, por si só, a existência de um esquema fraudulento. Pelo contrário, demonstra a expertise da empresa nesse segmento, algo reconhecido globalmente.
A XP é uma das líderes em operações estruturadas no Brasil e, por conta disso, possui um fluxo robusto de transações que envolve clientes institucionais e individuais. No universo dos derivativos, uma estratégia comum é o Delta Hedge, que permite reduzir riscos e criar posições balanceadas sem necessidade de apostas especulativas diretas. Isso é parte essencial da estratégia dos market makers, que atuam intermediando grandes volumes de ordens no mercado financeiro.
Ao contrário do que sugere o relatório da Grizzly Research, a XP não depende exclusivamente da venda de produtos para investidores de varejo. Seus fundos, mesas de operações e serviços institucionais são fontes de receita que sustentam a lucratividade da companhia, muitas vezes utilizando estratégias avançadas para mitigar riscos e maximizar ganhos.
Uma das críticas mais recorrentes contra a XP é a suposta falta de transparência sobre a composição de seus fundos, como o Glaudius. Como esses veículos operam com milhares de ativos, muitas vezes derivativos, há uma dificuldade natural para que investidores externos compreendam completamente a dinâmica da carteira. Entretanto, essa complexidade não significa que a empresa esteja escondendo informações ou manipulando preços, mas sim que o mercado de derivativos é, por natureza, altamente técnico e sofisticado.
Outro ponto frequentemente debatido é a venda de COEs para investidores de varejo. Esse tipo de produto foi originalmente criado para grandes instituições financeiras, onde as taxas e o volume justificam a operação. No varejo, as taxas podem parecer altas quando vistas de forma isolada, mas, proporcionalmente, são similares às de outros produtos financeiros tradicionais, como fundos de investimento.
É natural que empresas de grande porte e crescimento acelerado, como a XP, sejam alvo de questionamentos e críticas. O mercado financeiro é um ambiente de constante escrutínio, e investidores têm o direito de buscar transparência e segurança em suas aplicações. No entanto, as alegações de que a XP opera um esquema Ponzi não se sustentam quando analisamos os fundamentos do modelo de negócios da companhia.
A XP construiu sua reputação ao democratizar o acesso a produtos financeiros sofisticados no Brasil. Isso não significa que a empresa esteja isenta de desafios e aprimoramentos, especialmente na comunicação e na educação financeira de seus clientes. Mas, ao contrário do que sugerem alguns relatórios internacionais, o sucesso da XP está fundamentado em inovação e estratégia de mercado, e não em práticas fraudulentas.
O debate sobre a XP é válido e deve continuar, mas sempre pautado por análises técnicas e dados concretos, em vez de narrativas alarmistas que podem distorcer a realidade do setor financeiro brasileiro.
* Manoel do Vale é sócio-fundador da Options & Company, empresa brasileira líder em pesquisa e desenvolvimento de soluções em derivativos.
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ELAINE CECILIA NISHIWAKI
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