Carnaval contemporâneo temas que desafiam o racismo estrutural e religioso com enredos de resistência

Pesquisadora Cláudia Alexandre inspira o desfile da Pérola Negra e reforça a importância das religiões de matriz africana na cultura nacional

SI COMUNICAçãO
26/02/2025 17h00 - Atualizado há 11 horas
Carnaval contemporâneo temas que desafiam o racismo estrutural e religioso com enredos de resistência
divulgação: Claudia Alexandre
 

São Paulo, 25 de fevereiro de 2025 – O Carnaval é um dos maiores símbolos da identidade brasileira, mas, para além da festa e da alegria, ele carrega uma história de resistência negra e afirmação cultural. No entanto, essa herança enfrenta tentativas de apagamento, e isso se dá pela crescente perseguição religiosa aos terreiros, e por discursos como o de Paulo Barros que afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo “que não gostava de produzir desfiles com a temática africana, pois entendia que os cortejos ficavam todos iguais na avenida e "ninguém entendia nada”.

 

Para a jornalista e pesquisadora Cláudia Alexandre, vencedora do Prêmio Jabuti Acadêmico 2024, esse tipo de visão desconsidera a diversidade e a profundidade das narrativas afro-brasileiras. Sua obra Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô, que inspirou o enredo da escola de samba Pérola Negra, revela como o princípio feminino de Exu foi sistematicamente ocultado no Brasil devido às imposições coloniais e ao racismo religioso.

 

"Exu é um elemento ligado à rua, à festa, ao movimento e aos prazeres da vida, o que o associa diretamente ao carnaval. O livro Exu-Mulher mostra como esse elemento do sistema de crenças da cultura yorubá-oyó (Nagô) teve sua concepção deturpada por narrativas ocidentais, que não entenderam as cosmologias de povos africanos que tinham na festa uma celebração da vida. O carnaval negro das escolas de samba segue essa lógica", esclarece a pesquisadora.

 

Historicamente, o batuque — matriz do samba — foi chamado socialmente de “macumba” de forma pejorativa, numa tentativa de demonizar as expressões culturais afro-brasileiras. No entanto, é essa mesma musicalidade que sustenta as escolas de samba e que transformou o Carnaval brasileiro em referência mundial e que traz retornos financeiros tão expressivos para o Brasil anualmente. Como Cláudia destaca em sua pesquisa, as religiões de matriz africana sempre foram fundamentais para o samba, constroem a história do Brasil e legitimaram a inteligência negra periférica por transformar resistência em arte.

 

O livro Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô também joga luz sobre a centralidade das mulheres negras na preservação das tradições afro-brasileiras. Nos terreiros liderados por elas, ocorrem disputas, negociações e reafirmações de um poder ancestral que muitas vezes foi silenciado. Ao trazer esse debate para a avenida, a Pérola Negra reforça o papel do Carnaval como espaço de resistência e visibilidade.

 

"A Pérola Negra usou da sua própria história, do momento em que precisou renascer para retornar ao Grupo de Acesso 1. Houve muita sinergia com a trajetória de negação e rejeição de Exu. A resistência pelo sagrado das mulheres de terreiro para proteger o candomblé, por exemplo. Vi tudo isso na força da comunidade e das mulheres que estão nos postos de comando, liderados pela presidente Sheila Mônaco, que teve que usar de resiliência para superar a derrota do passado e acreditar na vitória no presente. É uma dinâmica ancestral que faz parte da vivência em uma escola de samba, onde o samba e a fé andam de mãos dadas", conta Cláudia Alexandre.

 

Em tempos de ataques às tradições afro-brasileiras, celebrar Exu-Mulher e o matriarcado nagô no Carnaval é reafirmar que o Brasil deve muito de sua identidade à cultura negra. O que se vê na avenida não é repetição, mas a luta contra o racismo religioso e a celebração de uma herança que moldou o país.

 

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