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Na semana em que o Brasil enfrenta condições climáticas extremas, com alertas de temporais em diversas regiões e uma onda de calor histórica no Sul do país, a Associação Portal Catarinas lança o “Guia da Esperança: práticas para garantir justiça reprodutiva e climática”, publicação que, a partir da integração entre conhecimento científico e experiências vividas, apresenta diretrizes para enfrentar as desigualdades de gênero em contextos de crise climática. O material apresenta mais de 70 sugestões de ações que podem ser adotadas por autoridades, governos e organizações da sociedade civil para garantir justiça reprodutiva durante desastres climáticos.
O Guia integra um especial composto ainda por três reportagens especiais que abordam os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul, em maio de 2024, sobre os grupos mais vulneráveis, especialmente mulheres e meninas, e duas web stories educativas sobre como a justiça reprodutiva e climática estão interligadas.
O especial é uma produção do Catarinas, alinhada ao compromisso com o FP2030, uma iniciativa global que busca garantir acesso universal ao planejamento familiar e aos direitos reprodutivos até 2030, com o apoio da FP2030, Share-Net Colômbia, Profamilia e Save the Children.
Guia da Esperança: práticas para garantir justiça reprodutiva e climática
O Guia oferece diretrizes para a redução de danos, com o objetivo de orientar políticas públicas e planos emergenciais. Baseado em entrevistas como representantes de organizações feministas e em uma revisão bibliográfica sobre a interseção entre justiça de gênero e climática, o material busca apoiar autoridades, governos e organizações da sociedade civil na integração dos direitos reprodutivos nas respostas a desastres ambientais e na formulação de planos de ação em situações de emergência climática.
A publicação está disponível digitalmente no Portal Catarinas, traduzida para o espanhol, com acesso gratuito. O nome é inspirado pelo conceito de “Esperança Feminista” de Débora Diniz e Ivone Gebara, que compreende a força da ação feminista como mobilizadora de um futuro mais justo e igualitário.
“O Guia da Esperança surge num momento histórico de enfrentamento ao negacionismo climático. Temos o presidente dos Estados Unidos vetando financiamento para pesquisas científicas que abordam gênero e crise ecológica, por exemplo. E sabemos que a interseção entre gênero e mudanças climáticas já é bastante negligenciada. No próprio caso do Rio Grande do Sul, o governo só pensou em estratégias focalizadas para mulheres e meninas após denúncias de abuso sexual. Nesse sentido, um guia gratuito e com linguagem acessível é um instrumento para garantia de direitos e uma ferramenta de resistência”, pondera Inara Fonseca, coordenadora de projetos do Portal Catarinas.
Entre as mais de 70 orientações apresentadas no Guia, estão, por exemplo, a criação de políticas que garantam a distribuição de absorventes, kits de higiene e roupa íntima para pessoas afetadas por desastres climáticos; garantir acesso a serviços de saúde, consultas de pré-natal e serviços de aborto legal à população afetada; e capacitar profissionais de saúde para atuar em crises climáticas, atendendo de forma qualificada às demandas de saúde sexual e reprodutiva.
Crise climática no Rio Grande do Sul
A crise climática no Rio Grande do Sul, em maio de 2024, afetou mais de 2 milhões de pessoas, deixando 581 mil desabrigadas, 183 mortas e 27 desaparecidas. A tragédia evidenciou a falta de preparo governamental e a intensificação dos riscos, como abusos sexuais em abrigos.
Em meio a essa calamidade, lideranças feministas e ativistas comunitárias desempenharam um papel fundamental, demandando acesso a serviços de saúde reprodutiva e cuidados de saúde essenciais. Elas também organizaram abrigos exclusivos para mulheres e crianças e arrecadaram recursos para garantir a dignidade das desabrigadas, reforçando a solidariedade feminista em tempos de crise.
Essas histórias basearam as diretrizes que compõem o Guia da Esperança e são contadas em três reportagens especiais publicadas no Portal Catarinas.
A primeira reportagem destaca o trabalho das lideranças feministas e ativistas comunitárias durante a crise climática. A segunda, explica como meninas são duplamente afetadas pela crise, enfrentando barreiras de gênero e idade, além de narrar dificuldades de acesso a serviços essenciais, incluindo o aborto legal em casos de violência sexual. A terceira, revela a situação de violência e vulnerabilidade vivida por uma família indígena, composta majoritariamente por mulheres, durante a catástrofe climática.
“É essencial que as políticas públicas incorporem a perspectiva de gênero, reconhecendo os impactos desproporcionais das crises climáticas sobre grupos vulneráveis, especialmente mulheres e meninas racializadas”, defende, na introdução do Guia, a jornalista Schirlei Alves, que, ao longo de meses, conversou com ativistas que atuaram na tragédia do Rio Grande do sul.
Justiça climática e reprodutiva
A Justiça Reprodutiva considera fatores como gênero, raça, classe e território para defender a criação de políticas públicas que eliminem barreiras estruturais que violam direitos reprodutivos. A Justiça Climática é um conceito que reconhece que as mudanças climáticas, intensificadas pelo aquecimento global, afetam a população de maneira desigual.
Dados globais reforçam a urgência de discutir as ligações entre os conceitos. Estudos mostram que desastres climáticos aumentam a violência de gênero e prejudicam a saúde reprodutiva.
Em Porto Rico, após o furacão Maria, houve um aumento de 62% nas solicitações de serviços relacionados à violência doméstica. Em Mississippi, nos Estados Unidos, após o furacão Katrina, a taxa de estupro entre mulheres deslocadas atingiu níveis alarmantes.
Além disso, a exposição a desastres naturais tem impactado negativamente a saúde reprodutiva, com aumento de abortos espontâneos, partos prematuros e outras complicações.
As crianças, especialmente as meninas, são duplamente impactadas pelas mudanças climáticas. Na Amazônia, crianças estão deixando de ir à escola por causa das mudanças climáticas. Na Etiópia, a Organização das Nações Unidas (ONU) mapeou um aumento de meninas vendidas para casamento em troca de gado para ajudar as famílias a lidar com o impacto das secas prolongadas.
Esses dados evidenciam como as mudanças climáticas exacerbam as desigualdades de gênero, raça e classe, atingindo com mais força as meninas e mulheres mais vulneráveis.
Serviço
O que: “Guia da Esperança: práticas para garantir justiça reprodutiva e climática”, publicação com orientações para garantir justiça reprodutiva durante desastres climáticos.
Realização: Associação Portal Catarinas, com apoio de da FP2030, Share-Net Colômbia, Profamilia e Save the Children.
Idiomas: Português e espanhol.
Acesso gratuito em português: https://catarinas.info/wp-content/uploads/2016/07/guia-da-esperanca-praticas-para-garantir-justica-reprodutiva-e-climatica.pdf
Acesso gratuito em espanhol: https://catarinas.info/wp-content/uploads/2016/07/Guia-de-la-Esperanza-practicas-para-garantizar-justicia-reproductiva-y-climatica.pdf
Acesso às reportagens: https://catarinas.info/tag/justica-reprodutiva-e-climatica/
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ALVARO CAMPAGNOLI NETO
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