As recentes declarações de Donald Trump sobre Gaza, nas quais propõe que os Estados Unidos assumam o controle da região e a transformem na “Riviera do Oriente Médio”, ilustram um exemplo contemporâneo de como a noção de pacificação continua sendo usada, de forma velada ou não, como instrumento de dominação colonial.
Ao falar de seus planos para Gaza, Trump adota um discurso que remete à paz e ao desenvolvimento, mas sua proposta revela-se, na realidade, uma continuidade de um projeto histórico de subjugação e apagamento cultural do povo palestino, um processo que persiste há décadas. Essa estratégia de pacificação não é uma prerrogativa apenas de Trump, mas também reflete as práticas de Israel, que há anos impõe um regime de ocupação e segregação sobre os palestinos.
A pacificação, no discurso israelense, justifica políticas expansionistas e militarizadas, como o cerco contínuo a Gaza, os assentamentos ilegais na Cisjordânia e a repressão sistemática da população palestina. Esses elementos estão enraizados numa lógica colonialista que normaliza a violência sob o pretexto de buscar segurança e estabilidade. Na prática, a pacificação israelense configura-se como um regime de apartheid, no qual os palestinos são privados de direitos fundamentais e submetidos a um constante estado de vigilância e coerção.
Esses exemplos nos forçam a refletir sobre a verdadeira natureza da pacificação. Ao contrário do que se pode imaginar, pacificar não é o mesmo que alcançar a paz. Trata-se, na verdade, de um mecanismo de controle estatal, em que territórios e populações se tornam alvos de uma administração violenta. Pacificar, nesse sentido, não visa resolver conflitos, mas impor uma nova ordem que favorece os dominadores e marginaliza os dominados.
A proposta de Trump, sustentada pela visão do governo de Netanyahu, exemplifica essa lógica ao sugerir que a população palestina seja deslocada para abrir espaço para uma nova configuração territorial, orquestrada por potências externas – uma reminiscência perturbadora das práticas coloniais que marcaram a história global.
Para Trump e seus aliados em Israel, a destruição e o sofrimento do povo palestino são justificados pela promessa de um futuro economicamente próspero – mas apenas para aqueles que sobreviverem ou se submeterem à nova ordem dos “pacificadores”. Esse tipo de pacificação não apenas nega os direitos fundamentais dos palestinos, mas também perpetua a lógica de despossessão e exclusão, características de grandes potências imperiais ao longo da história.
Na realidade, a pacificação é uma continuidade da guerra disfarçada de outra forma. No contexto de Gaza, ela se apresenta como uma tentativa de apagar a resistência palestina e reconfigurar o território de acordo com os interesses externos. Disfarçada de projeto de reconstrução, a proposta de Trump reforça uma lógica de coerção, utilizando a falsa busca por ordem e paz como justificativa para a continuidade da violência e opressão com relação ao povo palestino, convertendo a própria ideia de paz em um instrumento de controle.
*Natali Hoff é especialista em Relações Internacionais, mestre e doutoranda em Ciência Política, e professora do Bacharelado em Relações Internacionais na Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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