A nova gestão Donald Trump inaugura um período de incerteza para a política internacional, com repercussões diretas para o Brasil. Seu primeiro mandato consolidou um viés protecionista, uma postura hostil ao multilateralismo e um completo desprezo pelas questões ambientais. Agora, com seu retorno à Casa Branca, esses traços devem se aprofundar, impondo obstáculos ainda maiores para o Brasil, que precisará adotar uma estratégia pragmática para preservar seus interesses econômicos e diplomáticos.
O protecionismo é um dos pilares centrais da nova administração Trump, representando uma ameaça direta às exportações brasileiras, sobretudo nos setores agrícola e industrial. Em seu primeiro governo, medidas como as tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiros já demonstraram o caráter protecionista de sua política comercial. Caso essa lógica se repita ou se intensifique, o Brasil poderá ver seu acesso ao mercado norte-americano ainda mais restringido. Diante disso, será imperativo fortalecer laços com outras potências econômicas, como a União Europeia e a China, além de impulsionar o Mercosul como um bloco mais competitivo.
No plano multilateral, o Brasil enfrentará um ambiente global mais fragmentado. Trump já demonstrou indisposição com instituições como a Organização da Nações Unidas (ONU), a Organização Munidial do Comércio (OMC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), preferindo um viés unilateralista que solapa a governança global e dificulta negociações em temas estratégicos. A volta desse isolacionismo norte-americano representa um desafio para o Brasil, que precisará reforçar sua atuação nesses espaços, evitando ser marginalizado em decisões importantes. Parcerias com os BRICS+ (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outras iniciativas do Sul Global podem ser alternativas viáveis para contrabalançar a instabilidade gerada pelo comportamento errático dos Estados Unidos.
A questão ambiental é outro ponto crítico. O negacionismo climático e o favorecimento da indústria de combustíveis fósseis por parte de Trump sugerem uma nova fase de retrocesso na agenda ambiental global. Para o Brasil, isso pode significar menos pressão externa para conter o desmatamento da Amazônia, mas também uma deterioração da credibilidade internacional do país, dificultando financiamentos e travando acordos comerciais que envolvem cláusulas ambientais. Assim, será essencial que o Brasil equilibre sua agenda ambiental entre interesses econômicos e compromissos internacionais, evitando o isolamento diplomático.
Diante desse cenário, a melhor resposta do Brasil talvez seja resgatar os princípios da Política Externa Independente (PEI), formulada nos anos 1960, que priorizava autonomia, diversificação de parcerias e pragmatismo diplomático. A conjuntura internacional exige uma diplomacia sofisticada, capaz de navegar entre tensões comerciais, o colapso do multilateralismo e desafios ambientais sem comprometer os interesses nacionais. A reeleição de Trump representa um teste crítico à capacidade brasileira de atuar de modo estratégico e flexível no cenário global. Mais do que nunca, evitar dependências excessivas e fortalecer laços estratégicos será essencial para garantir protagonismo e estabilidade no sistema internacional.
*Natali Hoff é especialista em Relações Internacionais, mestre e doutoranda em Ciência Política, e professora do Bacharelado em Relações Internacionais na Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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