23/12/2024 às 15h26min - Atualizada em 25/12/2024 às 08h07min

'Azira'i' retorna ao Rio de Janeiro após triunfo internacional e premiações

Solo que rendeu o Prêmio Shell de Melhor Atriz para Zahy Tentehar foi criado a partir de memórias e vivências com sua mãe, Azira’I, a primeira mulher pajé de sua reserva indígena

HENRIQUE VIEIRA
Divulgação / Sarau Cultura Brasileira
Desde a estreia, em outubro de 2023, “Azira’i” seguiu uma trajetória surpreendente de sucesso e repercussão mundo afora. Após ganhar o Prêmio Shell de Teatro de Melhor Atriz e percorrer 12 cidades em uma turnê que incluiu países como Colômbia e Estados Unidos, Zahy Tentehar retorna ao Rio para uma curta temporada do espetáculo no Teatro Firjan Sesi Centro a partir de 9 de janeiro.

Azira'i” é, antes de tudo, um espetáculo sobre a relação entre uma filha e sua mãe. Com a dramaturgia construída a partir das memórias de Zahy, este solo autobiográfico foi construído para resgatar a sua vivência com a mãe, “Azira'i”, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. Com direção de Denise Stutz e Duda Rios, o espetáculo tem produção da Sarau Cultura Brasileira, de Andréa Alves e Leila Maria Moreno.

A montagem recebeu ainda o Prêmio Shell de Melhor Iluminação e foi indicado em quatro categorias no Prêmio APTR: Espetáculo, Direção, Iluminação e Jovem Talento. No último ano, o trabalho passou por diversas cidades brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Brasília, Santos, São José do Rio Preto, Caxias, Macaé, Itaperuna) e fez temporada internacional em Bogotá (Colômbia) e Chicago (Estados Unidos).

Sobre o espetáculo:

Azira'i foi uma mulher muito sábia e herdeira de saberes ancestrais, com vasto conhecimento sobre o mundo espiritual. Como pajé suprema, ela usava três ferramentas tecnológicas para curar: as plantas, a mão e o canto. Ao gerar e criar Zahy nesta mesma aldeia, deixou para ela seu legado espiritual.

Ao longo da jornada como artista, Zahy fez do canto uma de suas expressões, o que poderá ser visto no espetáculo, em que ela cantará lamentos ensinados por sua mãe e canções originais compostas por ela com Duda Rios sob a direção musical de Elísio Freitas, produtor responsável pelo premiado álbum ‘Nordeste Ficção’, de Juliana Linhares, que também divide a autoria de algumas composições com a atriz e o diretor.
É neste verdadeiro ‘musical de memórias’ que se apresentam Azira'i e Zahy, mãe e filha, mulheres nucleares, distintas, diversas e espelhadas: 

‘Eu sou a filha caçula da minha mãe. A nossa relação, como muitas de nossos brasis, foi diversa: cheia de semelhanças e diferenças, com muitos afetos e composições importantes para nossa trajetória. A presença de minha mãe é tão viva, que a nossa relação se faz continuamente importante. Quando pensei em trazê-la ao teatro, não foi para falar apenas dos meus sentimentos, foi para dialogar com nossos reflexos enquanto sujeitos coletivos. Gosto de nos ver, humanos, como espelhos, pois nossas histórias se entrelaçam e se compõem’, analisa Zahy.

Azira'i faleceu em 2021, ao longo do processo de criação da montagem, que começa em 2019, quando Zahy e Duda Rios se conhecem no elenco da montagem de ‘Macunaíma’, dirigida por Bia Lessa e encenada pela companhia Barca dos Corações Partidos, também um projeto da Sarau. Nas conversas de camarim, Duda se surpreendia com o que Zahy contava – ela mesmo se define como uma contadora de histórias – e surgiu ali mesmo a semente de criar um espetáculo a partir daquela vivência em um contexto tão próximo, mas também tão distante.

Duda formatou a dramaturgia junto com a atriz, em uma estrutura narrativa que percorre a história por diversos pontos de vista, como os da própria Zahy, mas também o de sua mãe e de uma narradora. No último ano, Denise Stutz se juntou à dupla de amigos criadores e a encenação propriamente dita começou a ganhar uma forma.

‘O nosso maior desafio foi selecionar, entre tantas histórias que ela havia me contado ao longo de quatro anos, quais iriam compor a dramaturgia da peça. Às vezes queremos abordar muitas coisas num espetáculo e terminamos perdendo o fio da meada. Mas se temos um eixo narrativo claro, a chance do público se envolver é maior. Nesse aspecto a chegada de Denise foi fundamental, pois ela entrou no projeto pouco antes do início dos ensaios, com um olhar fresco que nos ajudou a identificar o que era essencial pra nossa narrativa’, conta Duda Rios.

Zahy, Denise e Duda conceberam então um espetáculo focado na performance, com apenas uma cadeira e uma cortina de corda crua como elementos de cena, além das projeções do multiartista Batman Zavareze (direção de arte e design gráfico), os figurinos de Carol Lobato e a iluminação de Ana Luzia de Simoni.

‘Eu fui conhecendo as memórias de Zahy durante esses meses de ensaio e fui me impressionando a cada dia pela potência das histórias de vida que ela contava e as narrativas sobre a mãe. Quando recebi o convite do Duda para me juntar a ele na direção desta montagem, tivemos conversas quase infinitas e o trabalho não faria sentido se a gente não escutasse primeiro os desejos de Zahy, afinal, é a história dela e são muitas memórias junto com sua mãe. A partir dessa escuta e dos textos que ela e Duda escreviam começamos a tecer esse musical de memórias. O mundo da Zahy está no seu corpo, no seu canto, na sua presença, nas suas histórias, no que é único nela e que é também o outro’, reflete Denise Stutz.

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"Azira'i" nasce ainda do desejo que Zahy tinha de contar as suas histórias reais, mas mostrando uma visão absolutamente não romantizada dos povos indígenas. ‘Uma história que é minha, mas também é a verdade de muitos brasis. É muito libertador poder falar do ser indígena de uma forma mais humanizada, sem estereótipos ou políticas. Quero poder contar a história de uma pessoa, como outras, que saiu de sua reserva, foi para a cidade, aprendeu uma outra língua e teve uma relação intensa com a mãe', reflete a atriz.

No palco, ela alterna cenas em Português e também em Ze’eng eté, trazendo para o centro da cena o debate sobre os processos de aculturamento aos quais sua mãe foi submetida. Neste momento em que o país tem pela primeira vez um Ministério dos Povos Originários, a realização de um espetáculo como “Azira'i” ganha ainda um contorno mais especial.

‘Não por acaso, estamos realizando alguns projetos em que pensamos o Brasil a partir do que veio antes da chamada História Oficial. Ao falar de biografias que foram atravessadas e violentadas pela colonização, pensamos também no país que somos e projetamos o futuro que queremos’, celebra Andréa Alves, da Sarau Cultura Brasileira, que recentemente foi responsável pelas montagens de ‘Museu Nacional’ e ‘Viva o Povo Brasileiro’, trabalhos marcados por um acerto de contas com a turbulenta biografia do País nos últimos séculos.

Sinopse:

“Azira’i” é um espetáculo biográfico que aborda a relação de Zahy Tentehar com a sua mãe, Azira’i, primeira mulher Pajé da reserva de Cana Brava (MA), que ocupou a categoria dos Pajés Supremos dos povos Tentehar, destinado apenas a pessoas com sabedorias medicinais e espirituais extremamente desenvolvidas. A relação entre mãe e filha se dá num contexto necessariamente conflituoso, em um interior nordestino extremamente patriarcal e em uma cultura tensionada entre a preservação de seus valores ancestrais e a absorção de dinâmicas e mazelas de um sistema de civilização globalizado. Ao mesmo tempo em que Zahy é a filha escolhida por sua mãe para herdar os dons de pajelança e comunicação com os Mairas, é também nela que Azira’i descarrega as frustrações de existir num ambiente colonial e opressor.

AZIRA’I
Um solo de Zahy Tentehar
Dramaturgia: Zahy Tentehar e Duda Rios
Direção: Denise Stutz e Duda Rios

Direção de arte e design gráfico: Batman Zavareze
Figurinos: Carol Lobato
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Trilha sonora: Elísio Freitas
Assessoria de Comunicação: Pedro Neves 

Direção de Produção e Produção Artística: Andréa Alves e Leila Maria Moreno
Coordenador de Produção: Gledson Teixeira
Produtor Executivo: Matheus Castro
Produção: Sarau Cultura Brasileira.

SERVIÇO
Espetáculo: Azira’i

Teatro Firjan Sesi Centro
De 09 de janeiro a 09 de fevereiro de 2025.*
*Não haverá sessões nos dias 26 e 30 de janeiro.
*Sessões extras nos dias 01 e 08 de fevereiro (sábados), às 15h
Quintas e sextas, às 19h. Sábados e domingos, às 18h*
Ingressos a venda  na Sympla
Classificação: 12 anos
Duração: 90 minutos

 

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PEDRO HENRIQUE VIEIRA SAMPAIO NEVES
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