Apesar do bom desempenho no último mês – e da expectativa para a estreia de “O Auto da Compadecida 2”-, o cinema brasileiro, de acordo com as empresas exibidoras, enfrenta um cenário bastante preocupante. Isso porque, há uma falta de equivalência entre a quantidade de títulos lançados e o desempenho de bilheteria dos longas nacionais. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da ABRAPLEX (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex), de janeiro a novembro de 2024, mais de 39% de todos os filmes lançados nos cinemas, eram produções brasileiras. Porém, a participação de público desses longas, contando com o sucesso recente de “Ainda Estou Aqui”, foi de pouco mais de 9% no período.
“Isso acontece porque hoje temos políticas de fomento que privilegiam a quantidade de produções, mas que não têm o sucesso comercial dos conteúdos produzidos como prioridade. Ou seja, não há hoje nenhum comprometimento com o retorno do patrimônio público investido. Isso compromete o impacto econômico dessas obras”, diz Marcos Barros, presidente da ABRAPLEX.
Ele reforça, ainda, que em 2023 os filmes nacionais alcançaram apenas 3% de participação no mercado, mesmo com uma quantidade bastante relevante de produções lançadas no período. Para o setor, esse é um problema sério. Afinal, é no momento da exibição, nas semanas em que o longa está em cartaz, que se encontra a única oportunidade de faturamento desse elo da indústria audiovisual.
“Temos plena convicção de que o sucesso do filme brasileiro é fundamental para o desenvolvimento e a sustentabilidade do parque exibidor. Porém, a participação desses longas no total de público varia em função do conteúdo oferecido ter ou não aderência na população. E hoje esse não é um ponto contemplado nas políticas de fomento”, complementa.
Corroborando com carta aberta escrita por diversos representantes da indústria na 4ª Conferência do Audiovisual da 57ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Barros afirma que é ilusório acreditar que o recente aumento de recursos será suficiente para ampliar o alcance e o impacto do audiovisual brasileiro e que construir um setor forte exige a formulação de políticas que abranjam desde a formação técnica e artística até estratégias robustas de exportação do nosso conteúdo, projetando o Brasil como um protagonista global em um mercado audiovisual dominado por gigantes internacionais.
Cota de tela – Marcos finaliza com uma reflexão sobre a Cota de Tela, política da qual os exibidores não são contra, mas que, de acordo com o setor, também precisa ser revista para que tenha o efeito desejado. Como exemplo, ele cita que o melhor desempenho registrado pelo cinema nacional em 2024 foi no primeiro trimestre, com uma participação registrada de 21%, momento em que não havia Cota de Tela. Enquanto, atualmente, com o decreto em vigor, a participação está em torno de 9%.
“Isso demonstra, claramente, que o desempenho dos filmes nacionais não se resolve por decreto. Especialmente um em que somente o parque exibidor fica com o ‘ônus’. É imperativo que se desenvolva uma política de fomento adequada, que privilegie também o sucesso comercial dos conteúdos produzidos por meio de Leis de Incentivo e que considere a importância e responsabilidade de todos os elos da indústria – produção, distribuição e exibição – para que esse objetivo seja alcançado. Tenho certeza que o cinema nacional tem potencial para ganhar o mundo e se tornar cada vez mais popular em nosso próprio país, mas ações são necessárias para que possamos chegar lá”.
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MICHELE CARVALHO DE SANTANA
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