O cenário da crise climática que se aproxima é extremamente preocupante. Os discursos em torno das mudanças climáticas se dividem em três grandes grupos: aqueles que confiam nos estudos científicos, que indicam o aquecimento global impulsionado pela emissão de gases de efeito estufa, acreditando que o ponto de não retorno já foi alcançado; aqueles que ainda acreditam na possibilidade de reversão, apostando na transição energética e em mudanças nos padrões de consumo; e, finalmente, os negacionistas, que rejeitam o consenso científico e agem como se a ciência fosse uma escolha opcional.
O relatório da Organização Mundial de Meteorologia (WMO) sobre o estado atual do clima de 2023 evidenciou que o ano foi o mais quente registrado desde que iniciaram as medições de temperatura no Planeta. Agora, em 2024, novos recordes estão sendo batidos, sobretudo em relação ao aumento da superfície dos oceanos. O fenômeno El Niño, ativo no Pacífico, intensificou a evaporação, aumentando a quantidade de vapor de água na atmosfera. Como consequência, o Rio Grande do Sul foi atingido por fortes chuvas em abril. No Atlântico Tropical Norte, o aumento da temperatura reduziu as chuvas típicas de agosto e setembro, agravando as condições de seca e as queimadas no Norte do país. No Atlântico Norte, a elevação das temperaturas oceânicas ajudou a transformar o furacão Milton de categoria 1 para 5 em apenas 24 horas, devastando regiões da Flórida.
Mudanças climáticas estão interferindo diretamente na circulação atmosférica global, gerando condições para chuvas irregulares, como as registradas no Saara, após muitos anos de seca. Na Europa, o continente que mais rapidamente se aquece, a atmosfera mais quente retém mais vapor de água, o que resulta em chuvas intensas e oceanos mais quentes, que, por sua vez, impulsionam tempestades violentas como as registradas no verão europeu esse ano.
No Brasil, uma análise da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), realizada em agosto, apontou a perda de mais de 90% dos corais em Alagoas, devido ao aumento da temperatura dos oceanos, à pressão humana e ao El Niño. Esse declínio ameaça todo o ecossistema costeiro do Nordeste, uma vez que os oceanos não aquecem de forma isolada. O mesmo padrão de perda de biodiversidade poderá ser observado em outras áreas.
Em São Paulo, maior metrópole da América Latina, os reservatórios estão com níveis abaixo do esperado, com previsões de escassez de água, mesmo que as chuvas fiquem dentro da média. Isso aponta para a possibilidade de racionamento no próximo verão. As mudanças climáticas podem ser negadas, mas seus efeitos nas cidades são inevitáveis: tempestades derrubam árvores e provocam apagões; enchentes e secas severas comprometem a infraestrutura e as saúdes pública e ambiental. Queimadas e doenças tropicais se espalham, impondo condições cada vez mais difíceis de controlar, independentemente do poder econômico.
Enquanto essa realidade se espraia pelo mundo, o cenário de destruição é agravado pela resistência de atores políticos e econômicos que buscam desmontar as políticas ambientais, favorecendo o crescimento econômico imediato em detrimento da preservação ambiental. No entanto, sem um meio ambiente saudável e condições climáticas adequadas, o desenvolvimento econômico se torna irrelevante. Enquanto os interesses dos barões do petróleo e das commodities continuarem a ditar o futuro do planeta, a capacidade de mitigar os impactos climáticos será severamente limitada. Precisamos urgentemente de consciência ambiental e pressão popular para barrar essa política econômica de destruição e escárnio.
(*) Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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