A ansiedade é amplamente conhecida como uma resposta emocional intensa diante de eventos que o indivíduo interpreta como ameaçadoras. No entanto, pouco se discute sobre o processo fisiológico que sustenta esta experiência, muitas vezes erroneamente categorizado como fraqueza ou falha. Uma crise de ansiedade, nesse sentido, representa uma ocorrência de proteção biológica, desencadeada pelo sistema nervoso autônomo e manifestada por uma série de alterações corporais predefinidas pela evolução humana.
O sistema nervoso simpático é o principal responsável por ativar o organismo para o enfrentamento de situações percebidas como ameaçadoras, promovendo a chamada resposta de “luta ou fuga”. É um mecanismo essencial, desenvolvido ao longo da história evolutiva para aumentar a chance de sobrevivência diante de perigos iminentes. Em uma crise, a ativação desse sistema gera reações psicológicas complexas e interconectadas, com o objetivo de mobilizar energia e aprimorar a capacidade de resposta física.
Há uma reorganização no fluxo sanguíneo que redireciona a circulação para os grandes grupos musculares, ao mesmo tempo em que diminui o fornecimento de sangue para regiões periféricas, como mãos e pés. Tal redistribuição, embora adequada em situações de perigo real, pode causar sensações desconfortáveis, como tontura ou formigamento, quando ocorre de maneira exacerbada. A frequência cardíaca se eleva, assim como o ritmo respiratório, para proporcionar um maior captação de oxigênio e nutrientes aos tecidos que refletem de maior atividade metabólica.
Além disso, as alterações respiratórias são um dos sintomas mais evidentes durante uma crise de ansiedade. A aceleração do ritmo é uma tentativa do corpo de suprir a demanda aumentada por oxigênio, o que, por sua vez, contribui para a geração de energia imediata. Contudo, essa hiperventilação pode desencadear a sensação de falta de ar ou aperto no peito, exacerbando o desconforto já presente. A respiração rápida e superficial é percebida como um indicativo de alerta, reforçando a percepção de perigo e criando um ciclo de retroalimentação que intensifica a resposta ansiosa.
Simultaneamente, as contrações musculares involuntárias, especialmente na região abdominal, fazem parte do conjunto de reações fisiológicas automáticas. Tais contrações visam preparar o corpo para movimentos rápidos, aumentando a força e a agilidade em situações de risco. Entretanto, num ambiente onde não há ameaça concreta, essas contrações resultam em desconforto abdominal e, por vezes, em náuseas, ampliando a sensação de mal-estar associada à crise.
Outro aspecto relevante no contexto das crises de ansiedade é a maneira como o corpo responde aos estímulos sensoriais. A percepção de sons, luzes e toques é intensificada, refletindo o aumento da vigilância. Este estado de alerta é uma característica adaptativa que possibilita a identificação de um possível perigo. Contudo, quando acionada em contextos seguros, a hipersensibilidade pode levar à sensação de desorientação e descontrole, agravando o quadro ansioso.
Entender o processo fisiológico subjacente à crise de ansiedade é fundamental para que se possa compreender que as reações experimentadas pelo corpo são respostas automáticas e não voluntárias. Elas ocorrem de forma previsível e coordenada, independentemente da vontade consciente. A fisiologia humana foi moldada ao longo de milênios para reagir às ameaças, e, embora muitas situações do cotidiano não representem riscos reais, o corpo ainda responde como se fossem, gerando as sensações características da ansiedade.
Nesse sentido, o papel da abordagem terapêutica é duplo: primeiro, facilitar o reconhecimento dessas respostas como parte do funcionamento biológico; segundo, promover estratégias de autorregulação que permitam a modulação da resposta ansiosa. Ao identificar a resposta fisiológica como um processo natural de proteção, é possível mudar a percepção de perigo e diminuir a intensidade das crises. Portanto, o foco não está em eliminar a resposta, mas em compreender seu funcionamento para que uma pessoa possa gerenciar as sensações que dela decorrem.
Dessa maneira, a ansiedade deixa de ser vista apenas como um problema psicológico e passa a ser entendida como uma manifestação natural do organismo, com propósito de autopreservação. Uma mudança no entendimento sobre as crises de ansiedade proporciona um novo olhar sobre o tratamento, fundamentado na compreensão e no respeito às respostas corporais como componentes essenciais de uma resposta adaptativa. A construção de uma relação mais harmoniosa entre mente e corpo, possibilita que o indivíduo aprenda a acolher suas reações e desenvolver formas de lidar com elas, em vez de combatê-las.
Sobre Maria Klien
É psicóloga, especialista e empresária no campo da cannabis medicinal, formada em terapia assistida. Especializada em transtornos de ansiedade e medo. Como empresária, trabalha para tornar a planta uma ferramenta acessível e eficaz para o bem-estar emocional.
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