22/10/2024 às 10h07min - Atualizada em 23/10/2024 às 00h01min
Palpites na criação
THIAGO BAEZ
Divulgação Ser pai ou mãe é uma jornada cheia de descobertas, mas também repleta de palpites, conselhos e cobranças vindas de todos os lados. Parece que, assim que um bebê nasce, junto com ele vem uma enxurrada de "você deveria fazer assim", "tem que fazer dessa forma", "na minha época era diferente". E, apesar de algumas dessas opiniões terem boas intenções, a verdade é que podem acabar atrapalhando mais do que ajudando. Hoje, com tanta informação disponível e uma sociedade hiperconectada, os conselhos nem sempre chegam de forma acolhedora. Muitas vezes, eles surgem em momentos inoportunos ou vêm carregados de julgamentos, o que pode deixar os pais sobrecarregados. Nesse cenário, há uma pressão constante para atender a expectativas externas que, na maioria das vezes, não refletem a realidade ou os valores de cada família. O segredo está em saber filtrar. É claro que algumas sugestões são valiosas, como lembrar que "é preciso se alimentar bem", "deixar outras pessoas ajudarem" ou que "errar faz parte". Esses conselhos tocam em questões fundamentais, principalmente no que diz respeito ao bem-estar mental e emocional dos pais. No entanto, quando os “tem que” começam a impor padrões de perfeição inatingíveis, o efeito é justamente o oposto do desejado: em vez de ajudar, eles aumentam o peso da responsabilidade e a culpa. Para lidar com a sobrecarga de conselhos, é importante que os pais desenvolvam um filtro emocional. Embora muitos palpites venham de pessoas bem-intencionadas, é essencial refletir se eles realmente fazem sentido para a realidade da família. Caso contrário, não há problema em simplesmente agradecer e seguir em frente. Aprender a dizer "não" sem culpa é libertador e ajuda a aliviar a pressão de atender a expectativas externas. Isso é especialmente relevante em casos de interferência de familiares, onde o afeto e a proximidade podem dificultar a rejeição de conselhos. Ainda assim, cabe aos pais decidir o que faz sentido e assumir a responsabilidade por suas escolhas, afinal, ninguém conhece melhor os filhos do que eles próprios. Outro aspecto que merece atenção é o impacto que esses múltiplos palpites podem ter nas crianças. Quando uma criança recebe ordens e orientações diferentes de diversas pessoas, ela pode se sentir confusa e insegura. É fundamental que haja uma coerência na criação, com valores claros e consistentes, para que a criança cresça com confiança e segurança. Essa coerência é a base do seu desenvolvimento emocional e mental. Além de tudo isso, é importante lembrar que as críticas, principalmente as dirigidas às mães, podem ter um efeito devastador. O acúmulo de julgamentos, sejam eles sutis ou explícitos, pode gerar exaustão, e essa carga emocional, muitas vezes, acaba sendo transferida, de forma inconsciente, para os filhos. Irritabilidade, impaciência e estresse podem ser consequências diretas desse processo. No final das contas, criar filhos é, acima de tudo, um exercício de autoconhecimento. Quando os pais estão claros sobre seus valores, suas limitações e suas expectativas, o processo se torna mais leve. É preciso aceitar que nem tudo está sob nosso controle e que, às vezes, falhar faz parte da jornada. E, talvez o mais importante: ouvir as crianças, entender seus desejos e necessidades também faz parte dessa caminhada. Afinal, elas também têm suas próprias vozes e experiências.
Bruna Rodrigues - Psicóloga - CRP 06/119.229 Especialista Clínica com aprimoramento em Prevenção ao Suicídio pela Universidade São Judas Tadeu (USJT). Pós-graduada em Psicanálise Infanto-Juvenil pelo Instituto de Pós-Graduação (IPOG). Pós-graduada em Metodologia ABA e Autismo pela Faculdade Metropolitana (FAMEESP) e em Neuropsicologia pela Universidade Paulista (UNIP). Instagram: @pensa_mente_jovem Tiktok: bruna.rodri.psi Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
THIAGO ENRIQUE BARRETO BAEZ
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