08/10/2024 às 12h12min - Atualizada em 12/10/2024 às 00h09min

Cia. Mecenato Moderno explora relatos da Comissão da Verdade em Prontuário 12.528

Com direção de Cesar Ribeiro e linguagem de HQs e desenhos animados, espetáculo estreia no dia 18 de outubro no Teatro do Núcleo Experimental

POMBO CORREIO ASSESSORIA DE COMUNICAçãO
João Caldas Fº

Cia. Mecenato Moderno explora relatos da Comissão da Verdade em Prontuário 12.528, que estreia no dia 18 de outubro no Teatro do Núcleo Experimental

Com direção de Cesar Ribeiro e linguagem de HQs e desenhos animados, espetáculo investiga a trajetória do Brasil contada por pacientes de um hospital em ruínas

 

“A expressão máxima da soberania reside, em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer” - Achille Mbembe

 

Em defesa do direito à memória e à verdade, a Cia Mecenato Moderno mergulha na obscura trajetória do Brasil, da nossa colonização exploratória até as mazelas sociais atuais, na peça de teatro Prontuário 12.528. O espetáculo tem sua temporada de estreia no Teatro do Núcleo Experimental, de 18 de outubro a 25 de novembro, com apresentações sextas, sábados e segundas às 20h e domingos às 19h.

A montagem tem direção de Cesar Ribeiro; atuação de Clara Carvalho, Helio Cícero, Mariana Muniz e Pedro Conrado; cenografia de J. C. Serroni; figurinos de Telumi Hellen; iluminação de Domingos Quintiliano, visagismo de Louise Helène; e direção de produção de Edinho Rodrigues e Marisa Medeiros.

Prontuário 12.528 pega emprestado em seu título o número da lei que instituiu a Comissão Nacional da Verdade para investigar a violência de Estado, especialmente cometida na Ditadura Civil-Militar (1964-1985). A iniciativa reúne o depoimento de vítimas, testemunhas, familiares e amigos de pessoas que foram torturadas, oprimidas ou assassinadas pelo Estado. A esses relatos, somam-se documentos históricos como a Carta de Pero Vaz de Caminha sobre o “achamento” do país, obras de Yves d'Évreux, textos do diretor e outras narrativas. 

No espetáculo, é traçada uma linha histórica do Brasil a partir de elementos presentes desde a colonização e que foram reforçados com a nova ascensão da extrema-direita, como o genocídio indígena, o racismo, o machismo e o autoritarismo, passando pelo centro na defesa de interesses econômicos acima do bem-estar coletivo”, salienta o diretor.

Em um hospital em ruínas que mescla elementos do passado com distopias futuristas, os pacientes revivem a história do Brasil em clima de sonho e pesadelo, em que surgem Pero Vaz de Caminha em sua carta de descobrimento, trecho de Malleus Maleficarum, obra do século XV que se tornou uma espécie de guia da Inquisição, o relato do assassinato do indígena Tibira em 1614, considerado o primeiro crime por homofobia no país, e outros textos.

Apesar da base documental, a montagem é concebida fora do teatro documentário, apostando na estetização da forma com referências a Tadeusz Kantor, Maguy Marin, Samuel Beckett e obras diversas, como Sin City e As Bicicletas de Belleville, em uma ideia de que tudo é linguagem e que a tentativa de simulação da realidade não é o melhor caminho para abordar a realidade”, destaca Ribeiro. 

A partir dessa estética, a peça discorre sobre a naturalização dos sistemas de violência na estrutura social e na cultura desde a colonização, traçando um paralelo com o Brasil atual, envolto na intensificação das necropolíticas.

A dificuldade do direito básico de existir, especialmente de certos grupos humanos, é um dos marcos centrais da peça: enquanto uma personagem feminina afirma ‘Eu não consigo respirar’, um personagem masculino também tem dificuldades de respiração, mas conta com um tubo de oxigênio ao lado. Por meio desse símbolo, a peça alude à violência ao redor do mundo, a como essa violência tem alvos principais e à própria covid-19, que vitimou mais de 700 mil pessoas no país, fruto de uma política de morte que não será resolvida se não houver uma profunda reformulação das leis no Brasil, como a de Anistia, que permitiu aos torturadores e aos adeptos da ditadura seguirem como parte do Estado ou satélites de suas benesses”, conclui o diretor.

Sobre a Cia. Mecenato Moderno

A Mecenato Moderno foi fundada em 1997. Produziu, com a Cia. Livre, a ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, além do espetáculo “Arena conta Danton”, uma releitura do texto de Georg Büchner “A morte de Danton, sob direção de Cibele Forjaz”. Em 2005, inaugurou a primeira peça itinerante do projeto Teatro nas Universidades, com o espetáculo “Liberdade, liberdade”, de Millôr Fernandes, também direção de Cibele Forjaz.

Em 2012, trabalhou na produção do espetáculo “Rainha [(S)]”, com Isabel Teixeira e Georgette Fadel, sob direção de Cibele Forjaz. Em parceria com a Cia. Ludens, de Domingos Nunez, produziu e administrou a primeira temporada da peça-documentário musicada “As duas mortes de Roger Casement”, culminando com apresentações na Irlanda.

Com trajetória intimamente ligada à Companhia Teatral Arnesto nos Convidou, de Silvia Marcondes, Samir Yazbek e Helio Cicero, realizou espetáculos como “O invisível”, “A noite do barqueiro”, “O fingidor” – vencedor do Prêmio Shell de Melhor Autor de 1999, com Samir Yazbek – e “As folhas do cedro”. Com este último espetáculo, participou do Festival Escénica e do Festival Internacional de Teatro de Santa Cruz de la Sierra, ambos na Bolívia. Realizou ainda a peça de Samir Yazbek, coautoria de Helio Cicero e direção de Antônio Januzelli, intitulada “Fogo-fátuo”, inspirada no mito de Fausto, com Cicero e Yazbek no elenco. 

Em 2013, realizou o projeto Imersão Samir Yazbek, no Sesc Santana, com a estreia do espetáculo “Frank-1”, inspirado no mito de Frankenstein à luz da engenharia genética. Ainda com o grupo, produziu a estreia do espetáculo “Post scriptum”, na Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba. Reestreou “O fingidor”, em temporada comemorativa de 15 anos, marcando os 80 anos de morte de Fernando Pessoa, durante as atividades festivas dos 50 anos do Teatro Tuca.

Com a paralisação das atividades da Arnesto nos Convidou, começou a atuar como Cia. Mecenato Moderno, realizando a temporada de “Jornada de um imbecil até o entendimento”, em homenagem a Plínio Marcos e com direção e atuação de Helio Cicero. Foi selecionada no edital ProAC de Circulação com “As folhas do cedro”, em 2011, no Prêmio Zé Renato com “Jornada de um imbecil até o entendimento”, em 2018, e no ProAC de Produção de 2022, com “Dias e noites de amor e de guerra” – peça que cumpriu temporada em 2024 no Sesc 24 de Maio.

Ficha Técnica

Dramaturgia, trilha sonora e direção: Cesar Ribeiro

Atuação: Clara Carvalho, Helio Cicero, Mariana Muniz e Pedro Conrado

Cenografia: J. C. Serroni

Figurinos: Telumi Hellen

Iluminação: Domingos Quintiliano

Visagismo: Louise Helène

Produção: Edinho Rodrigues e Marisa Medeiros

Sinopse

Reunindo depoimentos às comissões da verdade e textos de Cesar Ribeiro, Yves d'Évreux, Pero Vaz de Caminha e outros, a montagem utiliza a linguagem de quadrinhos e desenhos animados para mostrar a história do Brasil contada por pacientes de um hospital em ruínas, abordando colonização exploratória, genocídio indígena, machismo, racismo e autoritarismo, em busca do direito à memória e à verdade. 

Serviço

Prontuário 12.528

Temporada: 18 de outubro a 25 de novembro

Sextas, sábados e segundas, às 20h; domingos, às 19h

Teatro do Núcleo Experimental – Rua Barra Funda, 637 – São Paulo – SP

Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)

Venda online em https://www.sympla.com.br/

Bilheteria física (sem taxa de conveniência): Teatro do Núcleo Experimental 

Horário de funcionamento: em dias de espetáculos, a bilheteria abre 1h antes do início da apresentação.

Duração: 105 minutos

Classificação: 12 anos

Capacidade: 50 pessoas


 

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DOUGLAS DE PAULA PICCHETTI
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