O jornalismo brasileiro ainda carece de uma colaboração mais efetiva entre universidades e mercado. As instituições de ensino superior, onde se concentra a maior parte da produção científica na área, tende a permanecer no âmbito teórico, oferecendo poucas respostas práticas aos dilemas das organizações jornalísticas, apesar da natureza profissional marcada pela aplicação. Nesse sentido, é preciso desconstruir a velha máxima de que “na teoria, a prática é outra”, e de que a pesquisa e o fazer jornalístico devem estar dissociados. Uma das estratégias possíveis para a superação desta dicotomia está na pesquisa aplicada.
O relatório do Observatório de Pesquisa Aplicada em Jornalismo (OPAJor) aponta o distanciamento ainda bastante presente entre os dois campos. Em 2023, por exemplo, registrou-se o maior número de pesquisas aplicadas na área, totalizando apenas 31 trabalhos em todo o Brasil, menos de 1%. O número é baixo, se comparado com a chamada pesquisa básica. Da mesma forma, são raras as iniciativas desta natureza que são resultantes de parcerias entre instituições para o desenvolvimento de projetos que possam trazer benefícios para ambos os lados.
O problema é histórico, embora devamos reconhecer iniciativas que buscam a aproximação, como é o caso das Diretrizes Curriculares Nacionais de Jornalismo, aprovadas em 2013. O texto do documento expressa a necessidade de se pensar o ensino de jornalismo adequado à realidade do mercado de trabalho, questão pela qual parte da comunidade acadêmica se posicionou contrariamente à proposta.
Em partes, os desafios para o avanço da pesquisa aplicada em jornalismo estão alicerçados exatamente em uma dificuldade bilateral entre o campo acadêmico (universidade) e o profissional (mercado) em estabelecer relações que possibilitem a construção conjunta de soluções.
A ausência de uma práxis jornalística, como indica o teórico brasileiro Adelmo Genro Filho, carrega, em essência, uma disputa pouco contributiva ao jornalismo no qual as ações de pesquisa desvinculam-se da realidade ou, em geral, são especialmente críticas à atividade profissional e aos produtos que dela resultam. Ou seja, enquanto as universidades demonizam o mercado, as empresas jornalísticas buscam respostas em outras áreas de pesquisa que não o jornalismo. No formato atual, as empresas percebem as universidades apenas como fornecedores de profissionais qualificados aptos a reproduzir as lógicas (questionáveis) do mercado.
É de se estranhar que uma área de conhecimento tão ligada às atividades práticas pouco contribui para o seu desenvolvimento, ao contrário do que ocorre em outras áreas, como as engenharias, informação e as ligadas à saúde. O jornalismo, atividade cujos resultados expressam fortemente um caráter prático, em geral, busca respostas imediatas, como é próprio de um negócio marcado pela lógica comercial, conforme aponta o pesquisador Carlos Franciscato. Esta pressão é ainda mais forte quando consideramos uma das características centrais do jornalismo, pontuadas pelo alemão Otto Groth: a atualidade.
Uma das missões da ciência, portanto, é o desenvolvimento de soluções que permitam responder a problemas do cotidiano. Quanto mais sinérgica a relação entre ciência e mercado, maiores as possibilidades de soluções, incluindo a construção de tecnologias, métodos e processos que aprimoram as atividades reconfigurando-as, da mesma maneira que a pesquisa poderá se servir das experiências concretas da produção. É nesse sentido que a pesquisa aplicada precisa avançar também no jornalismo. É o que pode dar ao mercado respostas precisas às suas demandas e às universidades um papel protagonista no contexto atual.
Guilherme Carvalho é pesquisador e professor da graduação em Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter e da pós-graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). É doutor em Sociologia com Pós-Doutorado em Jornalismo. Também é diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABEJ).
Alexsandro Teixeira Ribeiro é pesquisador e professor da graduação em Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter. É doutor em Comunicação e realiza pesquisa de Pós-Doutorado na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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