O poeta e ensaísta Túlio Stafuzza lança seu novo livro, "Quanto de mim é uma nuvem", uma obra que convida o leitor a uma jornada introspectiva, explorando a poética da vida e a busca por significado. Com uma escrita singular, Stafuzza brinca com as palavras, revelando a beleza da linguagem e a vulnerabilidade da existência humana.
A obra aborda questionamentos importantes sobre a vida, desvendando a beleza da fragilidade e a força da introspecção. A poesia em prosa de Stafuzza, uma fusão única da musicalidade da poesia com a fluidez da prosa, permite que o autor explore a linguagem de forma livre e criativa, sem abrir mão da beleza e da força expressiva da poesia.
"Quanto de mim é uma nuvem" é um convite a mergulhar em um universo de reflexões e inquietações, a desvendar o que realmente reside no coração de cada um. Túlio Stafuzza demonstra uma profunda admiração pela psicanálise, reconhecendo seu potencial para desvendar as complexidades da alma humana. Em seus textos, ele tece uma intrincada teia de referências psicanalíticas, explorando conceitos como inconsciente, transferência, repressão e a relação do indivíduo com o outro.
Essa abordagem enriquece seus textos, tornando-os mais complexos e intrigantes, e convida o leitor a uma reflexão profunda sobre a própria existência. Confira a entrevista que fizemos com o autor na íntegra:
Em "Quanto de mim é uma nuvem", você convida o leitor a se deter na prática reflexiva da vida. Como você acredita que a leitura do livro pode contribuir para o desenvolvimento da capacidade de reflexão do leitor?
É engraçado que quase nunca atribuímos à poesia um poder reflexivo. O que eu acho uma grande injustiça, visto que talvez ela seja uma das formas mais adequadas para uma reflexão verdadeira. Um refletir em que as palavras conseguem se libertar até mesmo das prisões do pensamento, um refletir em que convivem no mesmo movimento o dentro e o fora. Como escreve lindamente a Sophia de Mello Breyner Andresen "Meu interior é uma atenção voltada para fora". Bonito isso, né? E é assim mesmo.
Quais autores ou obras te inspiraram na construção de "Quanto de mim é uma nuvem"?
Todo autor nasce de um leitor. Então, por mais que elenque muita gente aqui, tenho certeza que devo ter sido inspirado, mesmo inconscientemente, por muito mais. Ressalva feita, nesse livro eu escrevo poemas em prosa. Então acabo conversando com todos que li que também escreveram no estilo. Baudelaire, Mallarmé, Eugénio de Andrade, Maria Gabriela Llansol, Mario Quintana, Murilo Mendes, Clarice Lispector. Gibran, Tagore. Enfim, é grande a lista. Existe um poema neste livro, "estudos literários", em que, muito humoradamente, vou conversando com algumas das escritoras e escritores que me inspiram. A literatura é também uma grande conversa com tudo o que a gente leu, afinal.
O livro se divide em "Estudos teológicos" e "Estudos literários". Como você vê a relação entre a teologia e a literatura no desenvolvimento do seu processo criativo?
Na música ou na pintura, estudos são obras ditas "menores", isto é, um exercício prático do ofício. Os poemas que chamo "estudos" são sempre pequenas reflexões, aforismáticas e bem humoradas, sobre as coisas que me cercam. Como disse anteriormente, em "estudos literários" eu vou conversando com outras autoras e autores que me inspiram. Em "estudos teológicos" acabo por questionar, de maneira bem leve e despretensiosa eu diria, um pouco dos símbolos que nos rodeiam vivendo em uma sociedade majoritariamente cristã.
Que tipo de legado você espera deixar com essa obra?
É difícil dizer. Estou muito feliz com este livro, é verdade. A repercussão está sendo muito bonita. Acontece que depois que a gente escreve, a obra acaba ganhando vida própria. O caminho que ela vai trilhar, só ela vai descobrir afinal.
Quais os seus planos para a escrita e quais temas você pretende explorar em seus próximos trabalhos?
Creio que meu projeto mais encaminhado, mais perto de ser finalizado, é um livro que escrevi juntamente com o poeta e amigo Rafael Pelegrino. Trata-se de uma experiência surrealista de escrita coletiva. Abrimos um arquivo em conjunto e cada um tinha total liberdade para escrever, responder o outro, alterar o outro, mudar, criar. Enfim, uma experiência e tanto. Relendo alguns escritos mais antigos não consigo mais dizer quem escreveu o quê. Estou muito feliz com esse projeto.
Como foi a sua experiência com a Bienal do Livro SP?
Muito positiva. O processo de escrita é sempre muito solitário. Então esses eventos em que a gente vê o resultado e o alcance daquilo que a gente faz trancado em quatro paredes sobre um papel ou um computador são sempre muito legais.
A sinopse descreve "Quanto de mim é uma nuvem" como um convite para um "reviramento do olhar". Como você descreveria esse convite? O que te impulsionou a criar essa obra e qual a intenção principal que você busca alcançar com ela?
Quando li esse prefácio escrito pela querida Judite Canha Fernandes eu, além de muito lisonjeado, fiquei também um pouco perplexo. "Como assim o meu livro é um convite ao reviramento do olhar? Será verdade?" (risadas). Creio que toda a poesia é um convite para um reviramento do olhar. É olhar nosso velho mundo e ter alegria de experienciá-lo como uma grande novidade.
O livro é apresentado como um "exercício poético de filosofar no fazer da palavra". Poderia explicar como essa prática se manifesta no livro e quais os desafios e recompensas que você encontrou nesse processo?
Sou formado em filosofia. Mesmo assim, sempre achei distante o fazer filosófico da prática poética. A filosofia é muito exigente com as palavras e os conceitos, sua linguagem é mais "pesada". Sendo assim, é incrível receber esse tipo de retorno. Acho que no fundo a gente nunca foge de nós mesmos. E em cada livro a gente deixa transparecer muito de si - coisas que nem temos tanta consciência assim. Gosto muito quando o Gil T. Sousa escreve que "os livros são o lugar solene onde a nossa palavra, ou a nossa alma, pode ficar à espera de ser olhada e eu não tenho dúvidas de que quem partilha a alma exerce o mais alto grau de sabedoria".
A obra parece buscar uma "inversão da lógica das coisas", confrontando o leitor com novas perspectivas e questionamentos. Quais as ideias ou conceitos que você busca desafiar e reavaliar através da poesia?
Podem ser tanto os mais materiais quanto os mais abstratos. Não sei se consigo ver um grupo específico de coisas. Talvez tudo o que se esconde e se revela através das palavras.
Como você descreveria o tom e a atmosfera do livro? A que tipo de leitor você o dirige?
O tom é bem fluido, penso eu. Alterno momentos mais leves, bem humorados, outros mais reflexivos, nostálgicos, e outros ainda mais densos e pesados. Tendo no fundo, pensando agora, imitar o ritmo da vida, em que todos esses momentos também vão se alternando. Sem muita lógica, mas sempre com algum ritmo.
Trecho do livro:
“Há mais na história daquela menina que temia as poças d’águas. O medo era repleto de complicações. Dele nascia uma confusão profunda. ‘Eu via o céu refletido nas poças, as nuvens tão próximas e ficava me perguntando como o céu poderia estar aqui? Ele não estava mais lá?’ O céu sempre escolheu as poças calmas para molhar o rosto, refrescando-se nas tardes quentes como os animais famintos. Penso que há um princípio teológico aqui. Contudo, não era isso que diria para aquela menina. Dia que as nuvens são vaidosas. Procuram espelhos d’água para medir o tamanho de suas barrigas.” - Narcisos de algodão, página 47 (Quanto de mim é uma nuvem).
FICHA TÉCNICA
Título: Quanto de mim é uma nuvem
Autor: Túlio Stafuzza
ISBN: 978-65-5900-634-2
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 96 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª
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ALEX YAN DA COSTA MENDES
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