O mercado de seguros de crédito no Brasil tem registrado um crescimento expressivo, impulsionado pelo aumento das incertezas econômicas e pelo número crescente de empresas em recuperação judicial (RJ). De acordo com dados recentes da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), o volume de prêmios emitidos para este seguro aumentou. Somente nos últimos 12 meses, a SUSEP registrou alta de 12,6%, chegando a marca de R$ 1.897.842.493, o que reflete a crescente demanda por proteção financeira contra inadimplência.
Esse cenário de alta demanda é apontado por Ilan Kajan, vice-presidente de Riscos Corporativos da Alper Seguros, como justificativa para a relevância do seguro de crédito em tempos de crise. "Estamos vendo um aumento significativo nas cotações de seguro de crédito, impulsionadas pelo aumento dos atrasos nos pagamentos e pelo crescimento das empresas em recuperação judicial", comenta. "Empresas que antes não consideravam a proteção do seguro de crédito estão agora recorrendo a ele como uma forma de salvaguardar seus ativos circulantes e contas a receber".
O principal motivo para a alta nos pedidos de recuperação judicial e insolvência no país é o nível elevado da taxa Selic (10,5%), que implica em maiores custos financeiros sobre as dívidas de empresas que estão inadimplentes. Atualmente, são 6,9 milhões de empresas inadimplentes no país, segundo dados do Serasa. As micro e pequenas empresas são as mais afetadas por possuírem um fluxo de caixa menor. Apesar do ciclo de cortes iniciado no ano passado, que começou com a Selic em 13,75%, o atual patamar da taxa de juros ainda é considerado bastante restritivo para as empresas em geral.
A recuperação judicial apresenta um cenário que exige respostas rápidas por parte das seguradoras, especialmente em relação às questões de foro. "Em casos de RJs, a seguradora indeniza em até 30 dias após a homologação, acelerando o processo que, em situações normais, poderia levar até cinco meses para tentar recuperar o crédito. Esse procedimento garante que as empresas seguradas tenham suporte financeiro imediato, mesmo diante de dificuldades extremas, como a insolvência," explica Kajan.
Dados da SUSEP mostram que, além do aumento no volume de prêmios, o valor total de sinistros pagos pelas seguradoras nesse segmento também cresceu, refletindo o impacto econômico das recuperações judiciais sobre as empresas seguradas. Em 2023, os sinistros totalizaram mais de R$ 1.5 bilhões, com uma taxa de sinistralidade de 81,5%, um aumento significativo em relação aos anos anteriores (em 2022 a taxa foi de 57,06% e em 2021 de 36,18%).
Setores como o varejo eletrônico estão entre os mais impactados, conforme observa Kajan. "O mercado de varejo está extremamente alavancado, e as vendas não estão acompanhando essa alavancagem, o que aumenta o risco de crédito nesse setor", afirma. "A contratação de especialistas em recuperação judicial por grandes varejistas, como temos observado recentemente, sinaliza as dificuldades que essas empresas enfrentam".
Kajan também destaca a importância de entender a relação entre a alta dos juros e o aumento das recuperações judiciais. "A alta dos juros dificulta a obtenção de crédito barato, o que é crucial para que as empresas consigam girar suas operações. Essa dificuldade financeira leva a um maior número de RJs, elevando ainda mais a importância do seguro de crédito," conclui.
A previsão é que o cenário continuará desafiador nos próximos meses, tendo em vista que não são esperados novos cortes na Selic durante esse período. No momento, o boletim Focus mostra expectativa de Selic a 10,5% no fim de 2024 e de 10% no fim de 2025, sendo que esse corte só deve ocorrer no segundo semestre do ano que vem. Há ainda importantes players do mercado que apostam em um ciclo de alta na Selic, a iniciar em setembro de 2024, visando a ancoragem das expectativas de inflação para os próximos anos.
Em um cenário econômico difícil, o seguro de crédito se consolida como uma medida preventiva essencial, protegendo empresas de perdas financeiras significativas e contribuindo para a estabilidade do mercado como um todo.
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THIAGO QUIRINO DO NASCIMENTO
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